Apagão, Pânico e Silêncio: Mais um Teste Falhado
A falha elétrica de 28 de abril expôs fragilidades institucionais, desorganização social e uma preparação cívica insuficiente. A resposta começa com a responsabilização e uma educação prática para crises.
Na noite de 28 de abril de 2025, Portugal mergulhou numa escuridão inquietante. Um apagão em larga escala, que se estendeu por toda a Península Ibérica, deixou milhões de pessoas sem eletricidade, sem comunicações e, pior, sem respostas. Mais do que uma falha técnica, o incidente revelou uma sociedade despreparada, instituições silenciosas e um sistema energético vulnerável. O que aconteceu naquela noite não foi apenas a interrupção de um serviço essencial, foi um alerta para as fragilidades que ainda precisamos enfrentar, tanto na infraestrutura como na governação.
Das Prateleiras aos Nervos: O Pânico Evitável
Quando as luzes se apagaram, o instinto falou mais alto. Em Lisboa, Porto e outras cidades, multidões correram aos supermercados, disputando garrafas de água e alimentos não perecíveis. Em Alvalade, uma dona de casa relatou ao Jornal de Notícias ter visto pessoas a empurrarem-se por um garrafão de 5 litros de água, como se fosse o fim do mundo. Prateleiras esvaziadas em minutos, filas que se estendiam por quarteirões e discussões acaloradas tornaram-se imagens do caos. Para quem viveu a corrida ao papel higiénico em 2020, a cena era perturbadoramente familiar.
Este comportamento não é apenas uma reação à incerteza, é o reflexo de uma sociedade com pouca literacia cívica e uma cultura de prevenção quase inexistente. “As pessoas não sabem o que fazer porque nunca foram ensinadas”, explica Ana Ribeiro, socióloga da Universidade Nova de Lisboa. “Não temos uma mentalidade de antecipação, apenas de reação.” A ausência de preparação coletiva transforma imprevistos........
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