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A imigração 01 

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17.05.2025

1. As próximas eleições vão ter na imigração um dos temas mais prementes. Os partidos maiores desejariam que não fosse assim, tentarão que seja menorizado e pareça consensual. E dirão coisas incríveis.

Todos os políticos são a favor da imigração. Não todos de um modo geral, apenas todos os políticos acreditados por parte de todos os comentadores acreditados por parte dos órgãos de informação acreditados pelos partidos acreditados pelo pensamento de esquerda para terem opiniões.

Acredita-se por essa razão que os mencionados e devidamente escrutinados políticos serão igualmente a favor dos imigrantes, os homens que num certo momento das suas vidas vieram e estão em Portugal à procura de qualquer coisa melhor. Qualquer coisa que não é Portugal, mas que existirá em Portugal – trabalho, um hospital, uma oportunidade. Faria sentido que assim fosse, que os políticos olhassem para cada um desses desgraçados homens fora do sítio e não apenas para a paisagem desrealizada que formam quando estão todos juntos, faria sentido que a “imigração” fosse apenas uma designação simplificada de todos os que a vivem com frio, fome e insónia. Mas não é assim, a imigração transformou-se num monstro ideal que os políticos apaparicam de longe e querem poupar ao mesmo destino que teve a galinha dos ovos de ouro – são para pôr impostos e trabalho no cestinho dos governos, não é prudente observar como são por dentro, como vivem, o que pensam, o que fazem à noite. E não reparando nos imigrantes também não reparam, e muito menos têm o mesmo zelo de protecção, para com os seus súbditos habituais, os que por toda a parte se queixam de coisas normalmente associadas às entidades monstruosas – o tamanho assustador, a voracidade, a grosseria e o mau cheiro. São os velhos e as mulheres que já cá estavam e agora encontram ocupadas todas esquinas das suas terras, que agora vivem com medo e têm de mudar de caminho, que têm de baixar os olhos para não serem consideradas objecto de violação. Há uma diferença vital entre a realidade sociológica e política na qual estão obliterados os rostos e os nomes de 1 milhão e meio de unidades – a “imigração” – e a carne viva dos seres humanos que vieram dos confins do seu mundo, onde tinham nome e história, para este confim do mundo que não é deles. E uma outra diferença também vital entre o povo português que, diz-se, no futuro e muito em geral vai beneficiar de reformas e mais framboesas, e cada um deles que atravessa o Martim Moniz ou uma praceta de Odemira. E, não atendendo a essas diferenças, os governos conseguirão atenuar uma agrura estatística à custa de uma catástrofe humana.

2. Os argumentos que defendem a imigração são de natureza diversa, mas resumem-se a dois. O primeiro deles estabelece com pragmatismo que os imigrantes são necessários para trabalhar, para pagarem impostos e assegurarem o futuro da segurança social. O segundo argumento é comovido e quer pairar por cima de coisas materiais, soluça e lembra que os imigrantes são seres muitíssimo humanos que devem ser acolhidos e a quem é devida ajuda. O primeiro fundamenta-se nas folhas de excel dos ministérios e parece impiedoso. E é impiedoso, é cego, porque nem o mais furtivo rodapé atenta no vertiginoso choque cultural que essa importação de trabalho implica. Todos os problemas que há dezenas de anos se associavam à importação de uma rapariguita das berças para servir numa casa de família do Restelo são reprodutíveis de um modo desmesurado pela presença de, não um, não dois, mas centenas de milhares de imigrantes de baixíssimo nível cultural – para além da cultura implícita, adquirida por aculturação nas suas terras e é o lastro indestrutível da sua identidade e dos seus comportamentos. É possível que ainda possam ser encontradas senhoras que viveram os grandes problemas com a criadagem que antigamente assolavam os lares fascistas. A maior parte delas será capaz de se lembrar da dificuldade que tiveram em convencer as suas rapariguinhas rústicas a tomarem banho com um mínimo de regularidade e a não se assoarem à roda do avental. À escala de uma criadagem que se conta por 1 milhão e meio a caminho de dois milhões, uma importação que por qualquer motivo não é considerada “fascista” apesar de se aproveitar de uma maneira despudorada da miséria e da vulnerabilidade, essas dificuldades serão imensas. Serão irresolúveis segundo se pode ver do exemplo de outros países – mesmo atendendo a que a patroa de Portugal é muito mais socialista e compreensiva, para todos, desde que não sejam mulheres a amamentar.

Para quem tiver dúvidas sobre a impiedade dos argumentos económicos pode ser mais convincente puxar-lhes pela elegância dos modos, que duvidosamente terão. É que no mínimo são modos algo desavergonhados, porque é assim que devem ser chamados esses argumentos e........

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