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O sucessor de Francisco

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04.05.2025

1 Pontos prévios: reconheço inteiramente a legitimidade da Eleição e Magistério do Papa Francisco e condeno, inequivocamente, qualquer tipo de insulto, indignidade, desqualificação e rejeição da sua pessoa. O pontificado do Papa Francisco foi marcante, intenso; contundente, por vezes. Caracterizou-se por um estilo e uma linguagem muito próprios, assumiu-se de descontinuidade perante os seus antecessores, e foi coerente desde o início até ao seu término. Em momento de “balanços” geram-se os inevitáveis antagonismos, polarizações, extremos. Por um lado, temos os apoiantes incondicionais, absolutos, acríticos, para quem o Papa e o seu pontificado são um exemplo vivo da mensagem Evangélica. Em contraposição, do outro lado da “trincheira”, temos o apego intransigente daqueles que refutam qualquer tipo de alteração, mudança ou mera renovação, demonizando tudo o que o Papa diz ou faz, ao ponto de questionarem a sua legitimidade como sucessor de Pedro. Acusam-no, ainda, de ser causador de grandes divisões na Igreja. Ambos, denotam uma visão parcial, incompleta e, cada um à sua maneira, bastante redutora da realidade. A atitude desejável será, porventura, a fidelidade e reverência ao Papa, sem hesitação; mas também sem qualquer tipo de servilismo, subserviência e, sobretudo, sem abdicar do sempre aconselhável exercício da faculdade de discernimento (o que causa irritação e perplexidade aos extremistas de ambos os lados). O efeito e repercussão das suas decisões, das suas encíclicas e exortações apostólicas, das suas entrevistas, catequeses e homilias… serão objecto de análise e estudo para muitos anos. Esta reflexão, pretende apenas dar destaque a alguns aspectos mais visíveis e evidentes do seu pontificado.

2 É surpreendente constatar como o falecimento de um Papa tem tão grande impacto à escala global. Perante um mundo tão secularizado, tão anti clerical, tão hostil à Igreja e às suas práticas; perante o esforço de tantos em transformá-la numa instituição irrelevante e anacrónica… é verdadeiramente surpreendente o impacto que a morte do líder desta instituição bimilenar, alegadamente retrógrada e ultrapassada, continua a ter na vida das pessoas. Nietzsche não tinha razão e, afinal, Deus não morreu; afinal, a proclamada indiferença da maioria perante a religião não corresponde à realidade; afinal, a igreja continua, perante a indisfarçável irritação de muitos, a ser eixo e fundamento que ainda vai marcando a diferença. E porque? Porque tem, apesar de tudo, resistido à máquina trituradora do “Pensamento único” e do “Politicamente correcto”; porque tem continuado a ser “Sinal de contradição” no seio da Humanidade, desafiando o poder das ideologias reinantes e respectivos paradigmas culturais; porque tem continuado a dizer Não às mentiras do tempo presente.

3 Constatou-se, frequentemente, ao longo do pontificado do Papa Francisco e também agora, após a sua morte, a proliferação de declarações enviesadas, falsas, ou pelo menos, cuidadosamente selectivas e descontextualizadas… instrumentalizadas por interesses e grupos particulares que, com o apoio amplificador de grande parte da media, distorcem e subvertem o essencial da mensagem do Papa, e da Igreja. É impressionante ver como muitos dos tradicionais e dedicados activistas anti igreja, muitos dos habituais e sistémicos inimigos da fé católica têm agora espectaculares e repentinas Conversões, qual São Paulo a caminho de Damasco, atingidos por súbitos e inesperados raios de luz… aparecendo nestas alturas a abraçar e a bajular o Papa, surfando a onda de alegadas e espectaculares reformas e mudanças na Igreja. Puro oportunismo (e engano)! Com João Paulo II e Bento XVI, ambos alvos a abater, a estratégia do “Pensamento único”, global, uniformizador… foi o de abertamente os considerar como inimigos do progresso e da modernidade; já com o Papa Francisco alterou-se o “modus operandis”, manipulando-se, frequentemente de forma grosseira, selectiva, parcial, a sua figura, os seus gestos e mensagens para, com descaramento, se poder dizer: “este Papa é cá dos nossos.” Claro que existem pontos, defendidos pela igreja, e portanto pelo Papa Francisco, compartilhados (e ainda bem)........

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