Viver mais de 100 dias com um coração artificial
Na semana passada, os media internacionais e também a prestigiada revista Nature noticiaram um feito importante da medicina australiana: um homem viveu durante mais de cem dias em casa e com um coração artificial total feito de titânio implantado no peito. O aparelho foi usado até que surgisse um dador cardíaco adequado que lhe permitisse ser transplantado com sucesso.
Entre nós, a notícia foi dada pelos media, mas, talvez devido ao tumulto da agitação política a que vamos ficando habituados, sem o relevo que devia e tendo ficado relegada para segundo plano. Achei por isso que valeria a pena analisar e divulgar o feito, reflectindo sobre as suas consequências.
Em Portugal, a insuficiência cardíaca (tipicamente causada por doenças do músculo cardíaco) é, como em todo o mundo ocidental, muito prevalente, sendo nas suas formas avançadas a transplantação cardíaca o tratamento “de ouro”. Com a transplantação cardíaca atingem-se hoje sobrevidas entre 80 e 90%, ao fim do primeiro ano de transplante, encontrando-se metade dos doentes transplantados vivos, aos doze anos, e com excelente qualidade de vida. A título de exemplo, não sendo a regra, um dos meus primeiros transplantados, hoje com 85 anos, faz a vida normal, mais de 35 anos após ter sido transplantado.
Mas o maior problema da transplantação será a escassez de dadores apropriados e em tempo útil para um dado receptor.........
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