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Autêntico ou estatístico? O teste que não sabe ler

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11.11.2025

Há algo de deliciosamente absurdo e, portanto, instrutivo na cena que se repete: para não “parecer IA”, há quem treine o próprio texto a tropeçar. Um amigo confidenciou-me que começou a “simplificar” o que escreve: vírgulas propositadamente mal colocadas, frases cortadas, um ar de desleixo concentrado. Dias depois, num post repete-se a pergunta com seriedade quase teológica: “Agora tem de escrever-se mal para não parecer IA?” A ironia é cristalina: ao “fugir” da IA, nivela-se por baixo, como se clareza, estrutura e boa escrita tivessem sido sequestradas por robôs. O problema não é a ferramenta; é o ambiente em que autenticidade e autoria foram confundidas com “erro humano”. A discussão séria não é “foi IA ou não foi?”, mas “quem é o autor?” e “há aqui ideia, propósito, nervo?”.

Convém, então, encostar a conversa à realidade técnica, com elegância e sem misticismo. Os modelos de IA são treinados em vastos acervos do que já foi escrito; aprendem a partir de regularidades da nossa biblioteca comum. O que devolvem são respostas estatísticas: aquilo que, dadas as palavras anteriores, é mais provável vir a seguir. Em linguagem mais simples: pedimos-lhes o normal e recebemos o normal, a campânula do previsível. Não é um defeito: é a função. Quando, depois, avaliamos “humanidade” por sinais de imperfeição, promovemos a imperfeição a critério; e o critério, transformado em jogo, deixa de medir o que promete.

A prova empírica, apesar de ruidosa, não é amável com a febre dos detetores. A OpenAI lançou um classificador para “indicar” se um texto era escrito por IA e desativou-o em 20 de julho de 2023 por baixa precisão. No próprio relatório da empresa: apenas 26% dos textos de IA foram marcados como tal, com 9% de falsos positivos, humanos tomados por máquinas. O aviso, esse, é ainda mais claro: “É impossível detetar de forma fiável todo o texto escrito por IA”. Não é um manifesto contra a tecnologia; é uma constatação de limites.

Também não ajuda o enviesamento conhecido contra escritores não nativos. Uma equipa ligada a Stanford mostrou que vários detetores classificam como “IA” uma fatia considerável de........

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