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O sonho económico dos pós-liberais

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saturday

Por todo o mundo ocidental, os grupos pós-liberais de direita estão a proliferar. Os pós-liberais não concordam em tudo, e as suas críticas ao que chamam liberalismo variam. Mas se há algo que partilham é um profundo cepticismo em relação ao mercado livre.

Nos seus trabalhos escritos, os pós-liberais insistem ser necessário o Estado orientar a economia para a realização de objectivos específicos. Os fins que têm em mente variam entre amplos e vagos (“mais localismo”, “maior comunidade”, etc.) e objectivos específicos, como forçar um ajustamento sectorial, afastando-se dos serviços e direccionando-o para a indústria. Dependendo de qual o pós-liberal a que nos estejamos a referir, os meios podem incluir o aumento das despesas com a assistência social, sindicatos maiores, tarifas mais elevadas, mais regulamentação e política industrial, subsídios para incentivar o crescimento demográfico ou a participação do Estado em empresas, para citar apenas alguns exemplos.

Infelizmente para os pós-liberais, todas estas medidas trazem consigo problemas bem conhecidos. As tarifas, por exemplo, minam a competitividade das empresas e das economias e aumentam os preços para todos. A política industrial alimenta o nepotismo e pressupõe um conhecimento sobre o futuro que os humanos não possuem. Os grandes Estados de bem-estar social produzem dependência e uma enorme dívida pública. Os grandes sindicatos comprometem gravemente a flexibilidade do mercado de trabalho.

Sempre que estes pontos são levantados, poucos pós-liberais manifestam grande disponibilidade para repensar a sua posição. O pós-liberalismo caracteriza-se por um desinteresse em compreender as verdades económicas e, nessa medida, é marcado por um alheamento económico livremente escolhido.

Cegueira perante factos

Esta cegueira consciente torna-se óbvia quando se examinam retratos pós-liberais das nossas actuais circunstâncias económicas. Ouvindo os pós-liberais contemporâneos, poder-se-ia pensar que, até recentemente, a política económica em todo o Ocidente tem sido dominada pelos liberais de mercado desde a década de 1980.

É difícil minimizar o quão imprecisas são estas alegações. Tomemos, por exemplo, os gastos do governo. Em 2024, a média dos países pertencentes à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico para as despesas gerais do Estado em percentagem do PIB foi de uns chocantes 43%. Ninguém se surpreenderá que a França tenha apresentado o valor mais elevado, com pouco menos de 60%. Mas o último número registado nos Estados Unidos (2023), de 39%, deverá fazer com que algumas pessoas hesitem antes de rotular os Estados Unidos como a terra dos mercados desregulados. A questão para os pós-liberais é esta: em que universo tais números mostram que as nações ocidentais foram invadidas por um capitalismo selvagem a partir de 1980?

A proliferação da regulamentação e do bem-estar social fornece mais provas de quão profundamente o Estado está imerso na vida económica quotidiana ocidental. Nos Estados Unidos, por exemplo, o Código de Regulamentos Federais cresceu de menos de 10.000 páginas em 1950 para umas astronómicas 190.260 páginas em 2023. Aliás, este crescimento continuou inabalável no auge do “neoliberalismo” durante as administrações Reagan, Bush I, Clinton e Bush II. Quanto à assistência social, do outro lado do Atlântico, aproximadamente 23% da população em idade activa da Grã-Bretanha recebe algum tipo de benefício público. Eis o triunfo do Thatcherismo.

Estes e muitos outros pormenores ilustram que não vivemos em economias laissez-faire. Salientam ainda que, em muitos aspectos, os liberais de mercado têm sido espectacularmente mal sucedidos na inversão da constante invasão do Estado nas economias ocidentais, iniciada há mais de um século.

Sempre que........

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