O apagão de Marcelo
Marcelo Rebelo de Sousa tem andado apagado, como faz sempre, em período de campanha eleitoral. O que é menos normal é que, perante o apagão, o Presidente tenha continuado desligado. Marcelo é conhecido pela sua ação hiperativo-corajosa: foi a Pedrógão quando ainda havia lavaredas na berma da estrada, estava há um menos de um mês no cargo quando acorreu à queda de uma avioneta perto de sua casa e, imagine-se, fez de nadador-salvador de duas jovens em apuros quando estava de férias em Alvor.
Desta vez, os portugueses recuperaram a eletricidade mais ou menos entre as 21h00 e as 23h00 de segunda feira-feira, mas Marcelo Rebelo de Sousa só viu a luz na sexta-feira, quatro dias depois. No próprio dia, o Presidente limitou-se a publicar uma curta nota no site da Presidência, por volta das duas da tarde, que dizia: “O Presidente da República está a acompanhar a situação em contacto permanente com o Governo.” Nunca mais se viu Marcelo.
Na pandemia, nos incêndios e noutras fases ou dias complicados da vida coletiva do país, Marcelo aparecia ao lado do anterior primeiro-ministro. A célebre sociedade Costa-Marcelo. Como agora se diz: name a better duo. Nessas situações, não havia melhor parceria. O Estado tinha quase uma representação bicéfala: do seu lado operacional (o Governo) e do seu máximo representante (o Presidente). Desta vez, Marcelo decidiu colocar-se de fora, dando como desculpa a campanha eleitoral. Fez mal.
Muitas vezes, a intervenção de Marcelo, num teatro operacional de um desastre, atrapalha a missão no terreno porque faz as equipas terem de estar preocupadas com a segurança das populações e, simultaneamente, com a segurança do Presidente. Mas, neste caso, o Presidente tinha dois trunfos que preferiu não utilizar: a capacidade de mobilização e o poder da palavra.
Se o Presidente convocasse os órgãos de comunicação — incluindo as todo-poderosas e invictas rádios — certamente muitos conseguiriam deslocar-se a Belém. Como, aliás, conseguiram ir a São Bento. Apesar........
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