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Drones versus Caças de Última Geração

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04.06.2025

O ataque coordenado ucraniano contra bases aéreas estratégicas da Rússia de 1 de Junho de 2025 representa não apenas um feito militar muito audacioso, mas um divisor de águas na guerra em curso. A operação, baptizada de “Teia de Aranha”, destruiu ou danificou mais de 40 aeronaves, incluindo bombardeiros estratégicos com capacidade nuclear em quatro bases aéreas russas, algumas localizadas a mais de 4.000 km da linha de frente, como Olenya, na região de Murmansk.

A Ucrânia afirma ter destruído mais de 30% da frota estratégica russa, atingindo modelos como Tu-95MS, Tu-22M3 e aviões A-50, essenciais para a capacidade de ataque de longo alcance da Rússia. A percentagem pode ser exagerada (“fog of war”), mas é certo que as perdas foram muito significativas porque actualmente Moscovo já não tem capacidade industrial para repor essas aeronaves a curto ou médio prazo: não há linhas de produção activas, as peças de reposição são escassas, e a canibalização de aparelhos antigos é insuficiente para compensar as perdas. Isso representa uma verdadeira “desmilitarização”, termo que ironicamente a própria Rússia utilizou para justificar sua invasão à Ucrânia, e que, agora, acaba por ser aplicada pela Ucrânia à frota aérea estratégica russa, como antes já o tinha feito (também com drones) à frota russa do Mar Negro que agora está refugiada na base naval de Novorossiisk.

O ataque surpreendeu não apenas pela distância dos alvos, mas pela engenhosidade logística assim demonstrada: os drones foram contrabandeados para dentro da Rússia, escondidos em compartimentos secretos de camiões TIR (aparentemente de empresas russas que não sabiam o que estavam a transportar), e lançados remotamente a partir de pontos móveis próximos das bases aéreas russas. O controle dos drones foi feito via redes móveis civis russas, utilizando sistemas como o Ardupilot e modems LTE, sem necessidade de operadores localizados perto das bases.

A operação expôs falhas gritantes na segurança interna russa. A facilidade com que camiões pesados transportando drones circularam milhares de quilómetros e estacionaram próximos de instalações militares estratégicas dá provas de uma combinação de ousadia ucraniana e incompetência grosseira colossal por parte da Federação Russa, das suas forças de polícia, segurança e agências de informação.

O prejuízo estimado ultrapassa 7 mil milhões de dólares e, mais grave, compromete a capacidade de Moscovo para manter a sua postura permanente de ameaça nuclear e de ataques de longo alcance. Além do mais, o ataque ocorre nas vésperas de novas negociações de cessar-fogo, fortalecendo a posição ucraniana à mesa........

© Observador