A continuidade leva à extinção
A política portuguesa mudou radicalmente: Entre 2022 e 2025, três eleições legislativas redesenharam por completo o mapa partidário do país. O Partido Socialista (PS), que em 2022 parecia hegemónico, foi ultrapassado em várias frentes e derrotado, em votos, com o Chega na última ida às urnas. É o fim de uma era e o início de um novo equilíbrio de forças: mais volátil, mais polarizado, e com uma base social em deslocação. Doravante, nada mais será como dantes e, até ver, ainda nenhum líder socialista parece ter ainda percebido a dimensão da parede de betão com a qual o seu partido colidiu frontalmente.
Este meu negro diagnóstico não é um palpite. Baseia-se na análise rigorosa de Pedro Guerreiro, que – com dados das sondagens à boca das urnas da Pitagórica – demonstrou o grau de erosão do eleitorado do PS e a forma como isto ocorreu de forma transversal no eleitorado socialista: entre homens e mulheres, jovens e idosos, instruídos e menos instruídos: Não é um fenómeno pontual ou localizado: é uma crise generalizada que devia estar a colocar em pânico os dirigentes nacionais, os deputados, os académicos, os VIPs e os membros das várias castas familiares que regem o Partido. Esta transversalidade da derrota deveria preocupar principalmente aqueles que estão a preparar listas para as próximas eleições autárquicas e que o irão fazer num contexto depressivo, desmobilizante e com uma base de militantes cada vez mais diminuta. Ao contrário do que alguns podem pensar este “pânico” não tem de ser necessariamente negativo, não tem de ser daqueles pânicos que paralisam os veados que, de noite, são surpreendidos com os faróis dos automóveis mas pode ser um daqueles pânicos que fazem os sinos bater a rebate, mobilizam as hostes, alteram pessoas e processos, forçam a mudanças profundas e radicais e transformam a realidade e o funcionamento interno do partido. Daqueles pânicos que criam um sentimento de urgência que precede a aparição das reformas internas e prenuncia a aparição dos grandes líderes capazes de as implementar.
Reitero: o que se passou com a votação no PS não foi apenas uma derrota entre muitas, comuns e banais na vida de qualquer partido político. O que se passou foi um autêntico tsunami que varreu tudo à sua frente e que os líderes do partido (os passados, actuais e futuros) não só não perceberam como não conseguem perceber de tal forma esta foi grande a sua dimensão ultrapassando os seus........
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