O Futuro do Liberalismo e Relações Internacionais
Assistimos atualmente a uma possibilidade real de transição perigosa, fortemente capaz de fazer abalar os alicerces que ao longo do século XXI e da segunda metade do que a este antecedeu têm sustentado a ordem internacional.
Essa ordem internacional liberal, construída a partir do pós Segunda Guerra Mundial, e que assistiu ao seu apogeu no pós Guerra Fria (Fukuyama chegou a proclamá-la como o “fim da história”) começa a ceder sob o peso da sua própria complacência e da ascensão metódica de potências autoritárias.
Um certo eixo que desafia os valores ocidentais demoliberais, marcado pela agressividade sistemática, não esconde a sua intenção. Aproveitando uma certa decadência dos principais líderes da ordem internacional liberal, nomeadamente os Estados Unidos da América e uma União Europeia complacente, Rússia, China, Irão e Coreia do Norte procuram desconstruir o edifício demoliberal que há décadas sustenta a paz, a cooperação e a liberdade no sistema internacional. Este é um avanço claro e preocupante que obriga a uma reflexão responsável e séria do mundo ocidental liberal.
A ascensão metódica deste eixo tem como base a reintrodução da guerra como instrumento de um tipo de diplomacia, de coação e de fortalecimento do poder. Na Ucrânia, não está apenas em jogo a integridade territorial de um Estado soberano, estando mais profundamente em causa o princípio de que as fronteiras não se definem pela força, mas sim pelo respeito........
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