A inadaptação do corpo à aceleração tecnológica
“We shape our tools and thereafter they shape us”
John Culkin na Saturday Review (1967)
A adesão generalizada às tecnologias digitais tem sido, nas últimas décadas, encarada como um sinal de progresso irresistível – como se a integração de dispositivos inteligentes no quotidiano fosse um capítulo natural da história evolutiva da espécie humana. Smartphones, plataformas de trabalho remoto, redes sociais e mais recentemente, inteligência artificial, inseriram-se com fluidez nas rotinas pessoais e profissionais. Todavia, há uma interrogação que permanece quase ausente do discurso dominante: estarão o corpo humano e a nossa psique preparados para esta transição abrupta e incessante?
A resposta, ainda que desconfortável, é negativa.
Desde o início do século XXI, e em particular após 2005, assistimos a uma digitalização massiva da vida contemporânea. Multiplicaram-se os investimentos em tecnologia, proliferaram dispositivos e aplicações concebidas para agilizar processos, aumentar a eficiência e libertar tempo. Paradoxalmente, os ganhos de produtividade não acompanharam esta vaga de inovação tecnológica. O crescimento da produtividade do trabalho nos países mais industrializados revela-se no mesmo período anémico, por vezes mesmo estagnado, contrastando com a promessa redentora da transformação digital.
Em abono da verdade, a........
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