Ouro no Alentejo, ou lavagem de dinheiro?
Há 40 anos que o Alentejo aguarda por uma mina de ouro que nunca mais chega a abrir. Mas será que é o ouro o real objectivo desta longa espera? Ou estará Portugal a ser palco de um titânico esquema internacional de lavagem de dinheiro proveniente de actividade criminosa?
Tudo começa nos inícios da década de 80, uma empresa desconhecida obtém uma autorização governamental para prospecção de ouro numa vasta área que englobava uma grande parte do Concelho de Montemor-o-Novo, e uma parte menor do Concelho de Évora. A notícia causa antecipação e alento nas freguesias de Santiago do Escoural (Montemor-o-Novo) e de Nossa Senhora da Boa-Fé (Évora), freguesias onde a maior parte da prospecção iria ser realizada, onde a maior parte dos postos de trabalho iriam ser criados e onde os respectivos estaleiros e armazéns iriam ser instalados. As populações são tendencialmente favoráveis à ideia, a região tem crónicas dificuldades de fixação de população e de aparecimento de oportunidades de emprego estáveis, uma notícia desta envergadura causa uma elevada criação de expectativas e uma natural simpatia para com tamanho ambicioso investimento.
A empresa instala-se nestas localidades, contrata funcionários locais com salários mais vantajosos, muitos dos quais abdicam de contratos estáveis para embarcarem numa nova esperança de um projecto que ambiciona um muito longo prazo com remunerações acima do praticado na região. Os trabalhos de prospecção têm início, e o frenesim diário de trabalhadores em trânsito de herdade em herdade, que enchem os restaurantes e os cafés durante a semana animam a economia local.
As conversas e discussões acerca da viabilidade da mina são uma constante nas ruas, “são precisos dois gramas de ouro por cada tonelada de terra para a mina ser viável”, toda a gente repete o slogan durante meses. O tempo vai passando e a situação mantém-se sem novidades relevantes, mas continua a haver trabalho e a população vive relativamente satisfeita. Mas o tempo vai passando, e acerca do fim das actividades de prospecção e início da exploração propriamente dita, nem palavra.
Passado um ano, ou ano e meio, às vezes dois anos, a actividade de prospecção pára, as máquinas são levadas para parte incerta, os armazéns esvaziam-se, os estaleiros desmontam-se, e de um momento para o outro, a mina é uma realidade que não existe. Diz-se que está em curso uma operação de charme para averiguar as prospecções e os estudos para concluir se o investimento é viável ou não. Os centros de emprego enchem-se de homens à porta, alguns conseguem regressar aos seus antigos ofícios, outros não. A esperança dá lugar ao desalento, a ilusão dá lugar à desilusão, e a agitação dá lugar à apatia e ao regressado marasmo. Da mina, nem sinal, apenas um ensurdecedor silêncio. Passados vários meses, saem notícias que afirmam um de três cenários; o primeiro, que a empresa responsável declara que a mina é inviável e não irá para a frente; o segundo, que a empresa responsável declarou falência ou foi dissolvida; o terceiro, que os responsáveis da empresa estão a braços com processos criminais no estrangeiro e a empresa é........
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