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Noosfera e Graça: A Fé Cristã na Era da IA

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31.07.2025

A Igreja, em diversos momentos da história, demonstrou resistência em relação à investigação científica, especialmente quando esta desafiava , ou se afigurava desafiar, dogmas religiosos ou interpretações literais das escrituras sagradas. Esta tensão entre fé e razão tem raízes em divergências metodológicas e na busca por verdades absolutas, onde a ciência, com seu método baseado em evidências e revisões constantes, muitas vezes entrava em conflito com a dogmática religiosa, levantando o receio de que a investigação científica pusesse em questão a autoridade da Igreja,

Com efeito, têm sido ensaiadas numerosas maneiras para provar a existência de Deus, com recurso a argumentos do tipo lógico-filosófico ou mesmo científico. A conclusão, pelo menos até agora, é que não se pode provar essa existência, nem a inexistência, pois não se trata, em absoluto, de uma questão do domínio da ciência.

O teólogo e padre católico Tomáš Halík, , popularizou a frase: “Se há alguma coisa sobre a qual tem ‘uma opinião firme’, então pode ter a certeza de que isso não é Deus”, sugerindo que a busca por Deus é um processo contínuo de questionamento, e que opiniões dogmáticas podem impedir a verdadeira experiência religiosa, enfatizando a importância da humildade e do reconhecimento da própria ignorância diante do mistério divino, com a fé a ir para além daquilo que pode explicar-se por raciocínio cientifico. Deus está nas coisas comuns, na vida quotidiana. Cristo incita os que O seguem a contemplarem os lírios dos campos e as aves do céu, para poderem compreender e confiar no amor e no poder de Deus, que são incondicionais.

A ciência procura o conhecimento do mundo natural, onde o homem se inclui . A religião, por seu lado, vai além desse mundo, ocorrendo citar o teólogo Karl Rahner: “O cristão do século XXI ou será místico ou não será cristão”, esclarecendo: “Desde que não se entenda por mística os fenómenos parapsicológicos raros, mas uma experiência de Deus autêntica” , isto é, ter a experiência de Deus que se dá à criatura por puro amor, o encontro com a Pessoa Divina que vem até nós .

Existindo diferenças substantivas entre ciência e religião, todavia, é legítimo concluir que terão muito em comum, o que significa que serão possíveis “pontes” entre elas, por serem ambas dimensões do ser humano, correspondendo a necessidades do homem, ambas tentando, fornecer-lhe sentido, obviamente sentidos diferentes. Ciência e religião são, em verdade, expressões da incompletude do ser humano, pois como o físico Erwin Schrödinger referiu, toda a ciência é uma resposta ao imperativo colocado diante do templo de Apolo em Delfos: conhece-te a ti mesmo. Quem somos nós? Que mundo é este onde somos? As respostas a estas questões têm sido procuradas e transmitidas em comunidade, aí se encontrando a dimensão religiosa associada.

E os exemplos abundam, alguns infelizes como a condenação de Galileu Galilei pela Igreja Católica (ver nota 1) no século XVII por defender a teoria heliocêntrica, que contrariava a visão geocêntrica defendida pela Igreja na época. Já se referiu George Lemaitre (nota 2) e aponta-se Teilhard de Chardin que procurou uma síntese entre a ciência (especialmente a evolução) e a fé, entendendo que o universo e o homem são partes de um mesmo processo criativo divino. Para ele, Deus não era apenas um criador distante, mas estava presente e atuante em todo o processo evolutivo, impulsionando-o em direção a um futuro de maior complexidade e unificação , portanto via o homem como um ser em constante evolução, impulsionado pela matéria e pela consciência, rumo a um futuro de maior complexidade, em unificação e conexão com o divino. Teilhard apresenta q que poderá qualificar-se como uma Hiperfísica, síntese de Ciência, Filosofia e Teologia que pretende superar as velhas oposições entre Razão e Fé, Ciência e Religião, Deus e Mundo, Espírito e Matéria. Para Teilhard, o homem não é apenas mais um animal, mas o ponto de convergência da evolução, onde a consciência........

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