Não saber negociar: só palrar e insultar os EUA
Será que quem negoceia com um terrorista que já matou vários reféns, para tentar salvar as vidas dos que ainda sobrevivem, é ele próprio um terrorista (ou subserviente ao terrorista)? Será que a melhor negociação com um terrorista que não se consegue eliminar é vociferar-lhe o quão diabólico ele é na esperança que ele reconheça ser o diabo, peça desculpa e liberte os reféns? “Sim” e “sim” respondem, inacreditavelmente, as redações inteiras e todos os comentadores de TV’s e certos jornais portugueses, bem como a maioria dos nossos políticos. Palram belas opiniões universais, com as quais todos concordamos, mas que nada resolvem, sobre a invasão da Ucrânia.
Há um livro americano sobre negociação que deveria ser lido por estes políticos e jornalistas lusos que revelam enorme falta de pragmatismo quando se trata de negociar para salvar vidas. O livro chama-se “Negocie como se a Sua Vida Dependesse Disso: As Técnicas de Negociação de Reféns do FBI Aplicadas aos Negócios e a Vida.” O autor, Chris Voss, é um ex agente e alto especialista do FBI, com centenas de provas de fogo no terreno, sobre como negociar com criminosos para libertar reféns. Voss é um exemplo do pragmatismo americano a contrastar com o idealismo ingénuo ou convicções luxuosas portuguesas. Gere agora uma empresa privada onde aconselha técnicas sobre como negociar em todas as situações. Nenhuma das suas técnicas passa por insultar o oponente durante três anos sem fazer mais nada. Alias ele aconselha que ouçamos o oponente, mesmo que seja um terrorista em grande escala, e lhe criemos uma ilusão de controlo.
Escrevemos este artigo vindos dos EUA, onde há pluralidade de opiniões na comunicação social, para um fim de semana em Lisboa, porque é insuportável cá a monotonia de opinião única contra os EUA em geral e em particular contra negociação na guerra da Ucrânia. Por exemplo, aprendemos que o comediante de direita Greg Gutfeld, o mais visto pelos americanos, nem sequer cá passa na TV, enquanto vários comediantes americanos de extrema-esquerda, pouco vistos nos EUA, estão nas nossas TV’s. Como podem assim os portugueses perceber os EUA? Só através da opinião das televisões de esquerda americana que cá são traduzidas sem qualquer contraditório? (TV’s essas que cada vez menos americanos veem nos EUA por serem só favoráveis ao partido democrata, por exemplo insistindo durante anos que Biden estava soberbo intelectualmente).
Traduzindo tudo isto para a posição portuguesa prevalente sobre a situação ucraniana: Há demasiados políticos portugueses ufanos da sua inação e das suas bonitas, mas inúteis platitudes contra o monstro Putin que proferem há três anos, enquanto milhares de ucranianos continuam a morrer na guerra. A hipótese mais benévola para explicar essa ausência de ação e essa incapacidade de negociação perante a morte alheia é que são muito ingénuos e não fazem a mínima ideia sobre o valor e potencial das técnicas de negociação americanas. Noutra hipótese mais assustadora, por eles o criminoso Putin pode continuar a matar por mais anos porque o que importa é que eles aparentem superioridade moral continuando a condená-lo pelas mortes, sem o combaterem no terreno nem negociarem para salvarem vidas. Tal egoísmo hipócrita ou falta de empatia pelos jovens ucranianos que continuam a morrer diariamente seria o triste cúmulo das inúmeras “convicções luxuosas” woke deles que só trazem sofrimento sempre aos outros, mas nunca aos que as exibem ufanos e bem longe da guerra. Preferem o conforto dos gostos fáceis nas redes sociais e elogios na TV e jornais coniventes do que trabalhar para resolver a guerra. Negociar é........
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