Job, Tirésias e a respiração do prazer
A pureza não é uma virtude, nem uma clareza, nem aquela brancura ideal de que as religiões e os sistemas morais procuraram, tantas vezes, fazer estandarte. É um apagamento, uma queda da vontade num espaço anterior a toda a intenção. Não é o que se ganha; é o que se perde. Purus em latim – termo talvez derivado de uma raiz que evoca o acto de despir – transmite imediatamente esse gesto: tornar-se nu, não diante de um olhar, mas diante do Ser. A pureza ocorre quando um espaço se abre dentro de cada um, quando se cria uma dobra suficientemente profunda para que algo para além de si mesmo possa entrar.
Nas Escrituras, טהור (tahor) não designa a ausência de pecado, mas a disposição para receber: a capacidade de estar diante de Deus, de ouvir, de ser transformado. Job, ao dizer-se “de mãos puras”, não o faz por vaidade: simplesmente afirma que nada retém. A pureza nunca é posse; é disponibilidade.
Psique, nas suas deambulações em direção a Eros, personifica essa abertura. Ela perde o seu palácio, a sua família, a sua identidade; caminha derrotada. Tudo o que resta é o vazio interior onde um deus pode habitar. Ela descobre que o verdadeiro amor não exige beleza, mas desprendimento. Aprende o que todos os mitos dizem: o divino visita apenas aquilo que deixou de se possuir. Também Tirésias precisa de perder – a sua visão, a transparência do mundo visível – para obter o conhecimento interior. A cegueira não é um castigo: é o que torna possível um outro tipo de percepção, uma câmara escura onde o futuro pode ressoar. Perder a luz para acolher algo diferente da luz: assim é o movimento da pureza.
Acreditamos na oposição entre pureza e prazer; que um exige a extinção do outro; que a pureza seria um definhamento da vida. Que erro tamanho! Pois o prazer é impuro apenas na medida em que se apodera, se agarra e........





















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