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Jerónimo e a pinta do i

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20.07.2025

A 26 de Agosto de 1572, Paris era um inferno, e o Sena era um dos seus muitos rios: centenas e centenas de cadáveres arrastados pela corrente, numa tétrica procissão de caos e intolerância. Aí, nesse cenário sinistro de vítimas anónimas, boiava também o cadáver de Pierre de la Ramée, o enérgico advogado da última letra a ser acrescentada ao nosso alfabeto: o J.

Pierre de la Ramée, também conhecido como Petrus Ramus, foi um dos muitos huguenotes executados durante o Massacre do Dia de São Bartolomeu, quando Carlos IX e a sua mãe, Catarina de Médicis, não foram capazes ou não souberam controlar a multidão de fanáticos que saiu para perseguir e matar todos quantos consideravam seus inimigos religiosos.

O homem que acabou como mais um corpo sem vida nas águas do Sena teve uma distintíssima carreira como humanista, afincadamente dedicada à Gramática. Foi nesse período que se assumiu como o principal divulgador da letra J. Ou melhor, como o gestor da sua ressurreição.

Jerónimo de Estridão, que ficaria para a história como um dos Padres da Igreja, tendo-se já tornado o prodigioso tradutor que viria a ser, regressou do Egipto a Belém em 386 com a intenção de passar o resto da sua vida numa gruta. Tinha mau feitio, era orgulhoso e era capaz de insultar em mais de quatro línguas todos aqueles que o invejavam ou desprezavam por ter o total apoio das mulheres. Entre elas, Paula, sua assistente e amiga culta, a cuja filha dedicou um dos seus muitos opúsculos sobre a virgindade. É estranho que um homem que detestava o sexo e defendia que, após o........

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