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Coromines e as mariposas de S. João da Cruz

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07.09.2025

Joan Coromines redescobriu, sob o voo de uma Branca da Couve, o “María, pósate” dos antigos Padres da Igreja. Era Abril na sua ondulante e suave Catalunha, o Abril das últimas tangerinas e dos primeiros narcisos. O mês que abre as coisas, como tão bem o sabiam os romanos. Na sua memória prodigiosa, na sua altiva perspicácia, equiparar Maria à mariposa dava-lhe uma felicidade semelhante à de Berceo, que viu a Θεοτόκος (Teotokos – “mãe de Deus”) encarnada num prado de Maio com as suas gramíneas, as suas poáceas e as suas calêndulas. Mas uma coisa era o manto da Virgem e a fertilidade da terra, e outra era aquela criatura alada em cujo nome (Ψυχή – Psique – sopro, hálito) os Gregos viam a alma. Seria Maria, a mãe de Jesus, também a matriz anímica em que, para assombro dos homens, fora concebido o Filho de Deus?

Coromines deve ter sussurrado, com a voz embargada: María, pósate! E, como se o ouvisse, ela pousou sobre uma verde leira de funcho, abriu as asas e fez com que o linguista revisse, em voo rasante, meia dúzia de palavras e suas raízes, alegrando-se por a língua castelhana ser dona da palavra “mariposa”, distinta do tradicional Papilium latino, ainda presente em catalão e francês, da Farfalla italiana, da Butterfly inglesa ou da Borboleta portuguesa. É difícil acreditar que uma palavra minúscula, nascida para nomear um insecto tão belo e frágil, pudesse ser expressa de tantas formas. E, distraídos,........

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