A geopolítica do desencanto
Há dias que parecem concentrar décadas de História. O que está a acontecer entre Washington, Moscovo e Kiev não é apenas mais um episódio da guerra na Ucrânia; é o reflexo das fraturas de um mundo onde a palavra “aliança” começa a perder significado. Donald Trump, num misto de pragmatismo e cinismo, está a redesenhar a política externa americana com a pressa de quem quer deixar uma marca — mesmo que essa marca seja feita sobre os escombros de um país em guerra. Volodymyr Zelensky, outrora celebrado como o herói de uma resistência improvável, é agora chamado de “ditador sem eleições”, enquanto a Europa assiste entre o desalento e a perplexidade a um jogo onde as palavras pesam menos do que o sangue derramado nos campos de Donetsk.
O Teatro das Máscaras Caídas
Trump não inventou a arte da provocação, mas fez dela uma estratégia de governo. Ao telefonar para Vladimir Putin antes de falar com Zelensky, não só inverteu a coreografia diplomática como expôs uma verdade desconfortável: para Washington, a Ucrânia já não é um aliado, mas um ativo negocial. As exigências de concessões territoriais, a pressão para adiar a adesão à NATO e a proposta de exploração dos recursos naturais ucranianos revelam um cálculo frio. “Um comediante modestamente bem-sucedido”,........
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