Triagem de Manchester … mais que um protocolo!
A avaliação negativa dos serviços de urgência (SU) é um tema recorrente na comunicação social, devido aos tempos excessivos de espera para o primeiro atendimento médico e à morte de doentes enquanto aguardam observação.
A sobrecarga dos serviços de urgência tornou-se tão habitual que o que deveria ser exceção passou a ser visto como normal.
É comum que a triagem seja apontada como uma das responsáveis, embora o seu papel, pelo menos teoricamente, seja apenas determinar a ordem de atendimento dos doentes.
Para padronizar a triagem e torná-la mais confiável, muitos hospitais adotaram sistemas estruturados, como a Triagem de Manchester, amplamente utilizada em Portugal e no mundo. Esse método classifica os doentes em cinco categorias conforme a urgência: Vermelha (atendimento imediato), Laranja (até 10 minutos), Amarela (até 1 hora), Verde (até 2 horas) e Azul (até 4 horas).
No plano teórico, o enfermeiro triador segue um protocolo estruturado, recolhendo informações com base em perguntas específicas para cada queixa. A prioridade é definida quando há um critério que não pode ser totalmente negado, como no caso de não se poder excluir, com toda a certeza, que um doente sente dor severa, o que implica a atribuição da prioridade correspondente.
Na prática, o ato de triar nos hospitais nacionais e internacionais vai muito além da simples atribuição de uma prioridade para o primeiro atendimento e envolve várias outras decisões críticas.
As ações do enfermeiro triador englobam decisões complexas, mas muito prementes.
1. O enfermeiro triador deve decidir a ordem de chamada entre doentes inscritos, garantindo que casos potencialmente graves, como suspeitas de Acidente Vascular Cerebral (AVC), risco suicida ou sintomas de enfarte, sejam priorizados, mesmo quando os doentes não têm consciência da gravidade da sua situação ou esses quadros não sejam evidentes enquanto estão numa sala de espera a aguardar a vez para serem triados.
2. O enfermeiro triador deve avaliar se as informações fornecidas pelo doente ou acompanhantes são suficientes e confiáveis, se há registos prévios e se o sistema de triagem permite integrar todos os detalhes relevantes. Essa análise determina a prioridade, segurança e o destino certo do doente dentro do serviço de urgência.
3. A atribuição de prioridades, que vai da vermelha à azul, é baseada em critérios padronizados do sistema de triagem. No entanto, dentro da mesma categoria, os doentes podem ter necessidades muito distintas, o que pode gerar dilemas na........
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