Os verdadeiros Putinianos
Quando, há três anos, escrevi aqui sobre os pacifistas cínicos, que alertavam para a inutilidade e até imoralidade da resistência ucraniana, cegos pelos seus preconceitos ideológicos, estava longe de imaginar que seriam eles, os primeiros, a reduzir a palavra “paz” a quase um sinónimo de rendição, porque se recusam a render-se à realidade.
Quando, pouco tempo depois, escrevi que Von der Leyen desdenhou da conhecida máxima de Jean Monnet de que “é melhor discutir à volta de uma mesa do que num campo de batalha”, ao virar as costas à bandeira branca levantada pelo presidente ucraniano em Istambul, estava longe de imaginar que, não tendo a UE forma institucional para se defender de ninguém, a guerra seria por si usada para construir realidades artificiais de emergência, tidas como axiomaticamente certas, a partir das quais todas as “acções” de governos, sociedade civil e indivíduos devem ser redesenhadas para responderem de maneira adequada.
Realidades artificiais acentuadas pela Comissão Europeia, a partir do momento em que se começou a vislumbrar a possibilidade de uma solução diplomática para o conflito russo-ucraniano. Desde então, para a propaganda da UE, a perspectiva de Putin cruzar os Alpes como Aníbal com os elefantes, tem sido apresentada como uma hipótese não só realista, mas até iminente, a ponto de justificar uma campanha imediata de “preparação” a todos os níveis.
Uma narrativa assustadoramente bipolar, tendo em conta que, até ontem, a narrativa oficial era aquela que nos dizia que “a Rússia não é invencível” e que Putin “falhou” porque ocupou apenas um quinto da........
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