Do Benfica aos “herdeiros” de trotineta
1 Ando há anos para ser assassinada por uma trotineta: apesar das restrições, deslizam pelos passeios destinados aos comuns mortais, rasam-nos pelos ombros como gatos silenciosamente velozes; surgem-nos com vertigem inesperada num sinal verde aberto para nós, confundem-se com o breu da noite.
Não sei quais as “autoridades” que legislam sobre isto, ou sequer se há quem vele ou zele por tão extraordinária possibilidade de assassínio. Que me lembre nunca vi um policia a interceptar o voo rasante de uma trotineta num passeio. Mas se eu parar o carro vinte e sete segundos em segunda fila, primeiro, aqui d’el rei, e segundo ainda me podem pedir 30, ou 40 ou 50 euros, chamando “viatura” ao automóvel, o que confere logo uma gravidade despropositada à coisa.
As bicicletas, idem: têm o exclusivo do espaço público, são proprietárias da rua, das passagens de peões, de praças, avenidas, jardim e becos, dos cruzamentos, dos passeios (mas os estragos serão sempre connosco).
2 Não é fácil perceber os portugueses. Instalaram-se de vez num desinteresse mortiço sobre o modo como são tratados pelo padrasto Estado e pelo seu poderosíssimo poder? Passaram procuração a um partido de protesto? Capitularam? É claro que aqui e ali tem havido “ melhorias” , aquela coisa do costume que por definição nunca é definitiva. Mas tendo o hábito e a resignação tanta força na alma lusa, não admira que não integremos o lote dos cidadãos europeus mais protegidos e mais respeitados pelo Estado. O magnífico Ruben A costumava dizer que “em Portugal o óbvio é que é difícil”. É. Quando damos por isso é como se as coisas se encaixassem contra nós, do voraz fisco que nos vai ao bolso sem pecado ,nem remorso a uma justiça paralisada ou quase, ou uma deplorável administração pública (facturas que aterram com “surpresa” porque são fruto de um erro do remetente e não falta do destinatário, mas primeiro que se prove podem passar anos, face ao ritmo também assassino da burocracia). E apesar dos notáveis progressos no uso da........
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