Estranho fardo, este: a liberdade!
Abril de 1974 transformou a nossa relação com a liberdade, elevando o estatuto dos portugueses de meros “possuidores autorizados” para “proprietários legítimos”. Conseguimos registar no papel uma espécie de quota de património, que carimba o cidadão de um poder soberano sobre si mesmo. Desde então, consta do caderno de encargos de qualquer português (logo a seguir ao nome, idade e domicílio fiscal) uma quota pessoal de liberdade — inalienável e intransmissível – que não vence juros nem dividendos, nem, por muito que se poupe, renderá na herança de qualquer filho.
A liberdade é, a olho nu, uma mais-valia subtil. Seria mais cómodo encontrar na inscrição do dicionário uma definição sossegada: – Liberdade… é (poder) fazer o que se quer.
Não creio, no entanto, que as mãos humanas estejam desenhadas para entaçar tamanha possibilidade. Até porque raramente poder fazer o que se quer é fazer o que se quer.
Como qualquer propriedade que não se pode vender, nem........
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