A ilusão da diplomacia pessoal
O mundo de hoje não se coaduna com a obsoleta ideia de silly season durante as férias do mês de Agosto. Nos últimos dias, pudemos assistir a dois encontros históricos: no passado dia 15, Donald Trump recebeu Vladimir Putin no Alasca e, apenas três dias depois, recebeu sete líderes europeus, incluindo Zelenskyy, rodeado por Macron, Starmer, Mertz, Meloni, von der Leyen, o PM finlandês e o secretário-geral da NATO na Casa Branca. O que sai destes encontros? Essencialmente, três coisas: o cálculo inteligente da liderança russa, a instabilidade desconfiável da liderança norte-americana, e a fraqueza comparativa da liderança europeia.
Desejoso de deixar a sua marca na ordem internacional, Trump ambiciona alcançar um acordo para terminar a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, quanto mais não seja porque adora a imagem simbólica de uma cerimónia em que o próprio desempenha o papel de protagonista histórico que decide coisas e assina acordos. Nas suas palavras, isso seria great television; nas palavras da indústria de comunicação política norte-americana, great optics. O problema, claro, está no conteúdo. Trump parece oscilar entre considerar irrelevante a substância do acordo e o desejo de contrariar os parceiros europeus e os pilares da ordem liberal internacional.
Putin e a delegação russa souberam aproveitar as fraquezas estéticas e emocionais de Trump. Antes de entrar na cimeira, a administração Trump havia declarado que Putin tinha de conceder um cessar-fogo sob pena de sofrer sanções pesadas, que como sabemos só estão à disposição do governo federal norte-americano. À saída, não apresentou nenhum acordo concreto e abdicou do cessar-fogo mas, por alguma razão, abdicou........
© Observador
