Um manifesto por um novo paladar na era digital
Há um sentimento, único na nossa era, que se instala após um período de scrolling sem rumo. Trata-se de uma ressaca cognitiva, um estado de simultânea agitação e torpor, de sobre-estimulação, porém, de profunda desnutrição anímica. Emergimos do fulgor do ecrã não mais sábios, mas com um zumbido latente de ansiedade e a vaga sensação de termos sido espoliados. Tal sentimento não constitui uma falha pessoal, sintoma de uma vontade débil ou de indisciplina. É, antes, um traço inerente ao seu desígnio. E para que compreendamos o que sucede às nossas mentes, cumpre-nos primeiro atentar no que sucedeu à nossa comida.
Durante milénios, a crónica humana foi uma luta contra a escassez. A grande ameaça era a subnutrição. No espaço de uma única geração, forjámos um mundo de uma abundância espantosa. Ao fazê-lo, contudo, apenas trocámos um flagelo por outro. A moderna indústria alimentar, ao otimizar-se para o consumo em massa, fê-lo com sacrifício direto da nossa saúde. É um sistema de uma astúcia notável, desenhado para forjar alimentos irresistíveis ao paladar, manipulados com as proporções exatas de sal, açúcar e gordura, para ludibriar os nossos instintos de recompensa, iludir os sinais de satisfação do corpo e a compelir-nos a querer sempre mais.
A mesma grande reviravolta abateu-se agora sobre o nosso meio informacional. Vencemos a escassez de informação só para nos afundarmos numa torrente. Neste novo ecossistema, plataformas e criadores são cativos de uma luta desapiedada pelo bem mais escasso do século XXI: a atenção do homem. Todo o objetivo de nos tornar informados, sagazes ou sequer ligados uns aos outros foi submetido ao imperativo supremo: manter-nos a fazer scroll. O resultado é o conteúdo de digestão fácil: informação concebida para ser consumida sem dispêndio, para acender a chama da indignação, para acalentar os nossos preconceitos e para evocar reações viscerais que exijam uma resposta instantânea.
Este regime de conteúdo, orquestrado por algoritmos, engendra uma nova crise de saúde pública: a desnutrição cognitiva. Tal como um corpo nutrido de alimentos industriais pode estar, em simultâneo, sobrealimentado e subnutrido, também a mente que se empanturra de iscos para a indignação, teorias conspiratórias e redomas de conforto algorítmicas se torna intelectualmente enfezada e socialmente alienada. Fica repleta das calorias vãs do conteúdo que apenas valida as crenças existentes, mas privada das vitaminas e fibras essenciais — as perspetivas discordantes, os factos matizados e as realidades complexas — necessárias para alicerçar uma visão realista do mundo.
Um estudo de 2018 do MIT, publicado na........





















Toi Staff
Gideon Levy
Tarik Cyril Amar
Daoud Kuttab
Jason Hickel
Yossi Klein Halevi
Rachel Marsden
Mikhail Salita
Sabine Sterk