menu_open Columnists
We use cookies to provide some features and experiences in QOSHE

More information  .  Close

A Fábrica de Frustração: o Diploma como Bilhete de Ida

10 29
18.09.2025

Portugal, terra de poetas e navegadores, parece ter-se transformado, nos últimos anos, numa espécie de fábrica de frustração. Não me refiro à melancolia intrínseca à nossa alma lusitana, mas a uma angústia muito mais palpável e sistémica: a que emana do nosso ensino superior. A recente diminuição de candidaturas, noticiada com a frieza dos números, é apenas a ponta de um iceberg que esconde uma verdade inconveniente. Estamos a formar gerações de jovens brilhantes, munidos de diplomas e ambições, para uma economia que, teimosamente, se recusa a valorizá-los, a absorvê-los ou, pior ainda, a retê-los. O diploma, que deveria ser um passaporte para o futuro, arrisca-se a tornar-se um bilhete de ida sem regresso, um convite silencioso à emigração. É um paradoxo cruel, um nó górdio que urge desatar.

O nosso sistema de ensino superior assemelha-se, por vezes, a um navio majestoso, mas que navega sem bússola, alheio às correntes do mercado de trabalho. A febre dos mestrados e doutoramentos, embora revestida de nobres intenções de aprofundamento do conhecimento, tem-se revelado, na prática, uma espécie de purgatório académico. Um lugar onde se adia a entrada num mercado de trabalho que, para muitos, se apresenta como um deserto de oportunidades. As bolsas de doutoramento, que deveriam ser a semente de uma inovação pujante, transformam-se, demasiadas vezes, num subsídio de sobrevivência que apenas prolonga a ilusão de uma carreira académica, gerando, ironicamente, mais professores para um........

© Observador