O mercado de carbono que não interessa
O dióxido de carbono é o principal gás de efeito de estufa associado ao desafio climático e está comprovado cientificamente que a sua concentração excessiva na atmosfera está relacionada com o aquecimento global. Este desafio climático tem de ser abordado por duas perspetivas: por um lado, diminuir as emissões de CO2 para a atmosfera e, por outro, aumentar a capacidade de absorção de carbono da atmosfera. É no âmbito desta última que começaram a surgir os projetos de carbono com base natural, que visam aumentar os sumidores naturais de carbono (floresta e solo).
Para além do carbono a biodiversidade apresenta-se também como um dos problemas societários mais importantes a resolver nos próximos tempos. De alguma forma, ambos estão relacionados e resolvê-los de forma separada não é seguramente o caminho. Pela dificuldade em resolver o problema da biodiversidade não faz muito sentido discutir projetos de carbono com co-benefícios de biodiversidade, mas sim ao contrário, projetos de biodiversidade com co-benefícios de carbono.
O olival superintensivo é o sistema de produção de azeitona/azeite com menor pegada carbónica por tonelada de azeitona/azeite produzido. Isto significa que, se quiser produzir alimentos com baixa pegada carbónica, tenho que intensificar os sistemas de produção. Contudo, se me perguntarem qual é a pegada de biodiversidade do olival superintensivo eu digo-vos que não é boa, pelo menos quando comparada com o olival tradicional.
O exemplo anterior (que também vale para a monocultura florestal ou outras) serve para ilustrar o facto de que, ao querer resolver o problema do carbono e da produção para alimentar cada vez mais pessoas, podemos estar a aumentar o problema da biodiversidade. Então como é que podemos resolver este dilema se a sociedade necessita de cada vez mais alimentos e de biodiversidade para os produzir? Não é linear, mas posso talvez ilustrar com um ecossistema tipicamente ibérico, o Montado (Dehesa em Espanha) com aproximadamente 4 milhões de hectares em Portugal e Espanha. Este ecossistema é considerado um “hotspot” de biodiversidade pois a sua estrutura normalmente alberga diferentes tipos de habitats, ou seja, mal comparado, diferentes tipos de uso do solo. Desde a agricultura, a floresta, a pastagem, as charcas, a pecuária extensiva, entre outros, todos contribuem de forma determinante para uma diversidade de usos do solo com impactos na estrutura da paisagem. Esta característica........
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