“Carbon Farming”: Modelos de negócio
As personagens da história que vou contar não existem e são fictícias, contudo servem o propósito de apresentar os diferentes pontos de vista associados ao objetivo deste artigo, detalhar os modelos de negócio associados ao “Carbon Farming”.
Jorge guiava o carro do pai na estrada que liga Évora a Monte Trigo, pois tinha combinado com um proprietário agrícola uma conversa provocada pelo Prof. de Agricultura de Precisão 1 do Mestrado em Tecnologias de Agricultura de Precisão.
Enquanto a paisagem corria ao seu lado Jorge ia pensando naquilo que o Professor tinha dito na aula – num futuro muito próximo os agricultores para além de produzirem alimentos também produzirão natureza e serão pagos por isso -. Como no âmbito da unidade curricular tem de criar uma startup para resolver problemas no âmbito da bioeconomia, coube ao Jorge entrevistar um agricultor para perceber a sua visão pessoal sobre o Mercado Voluntário de Carbono (MVC).
Chegado a Monte Trigo, Jorge foi amavelmente recebido pelo empresário agrícola João Potes que de imediato o colocou à vontade e logo se disponibilizou a responder às suas perguntas.
– Sr. João sabe que já existe uma normativa sobre o MVC em Portugal e que este pode ser uma nova oportunidade de negócio para os proprietários agroflorestais desenvolverem novos tipos de negócio?
– Já ouvi falar, mas não estou muito por dentro de quais são as oportunidades reais desse MVC, podes esclarecer?
– Ora bem, por exemplo, se plantar árvores na sua propriedade ou mudar a forma como trabalha o solo, não mobilizando o mesmo, poderá, no nosso clima mediterrâneo, fazer um serviço ambiental anual médio de aproximadamente 5 créditos de retenção de CO2eq para um projeto de 40 anos (~1 e ~4 tonCO2eq para o solo e arvores autóctones respetivamente).
– Espera lá rapaz, disseste 40 anos? Queres então dizer que tenho que ter um compromisso de 40 anos. Ora bem e quanto é que eu ganho?
– Sabe os créditos em MVC internacionais estão a ser vendidos por volta dos 10 euros a unidade, mas na Europa a média é mais alta, por volta dos 30 a 50 euros por crédito.
– Tu estás a dizer-me que eu me comprometo por 40 anos e ficaria com um rendimento médio anual de cerca de 150 euros por hectare e por ano? Mas se eu plantar eucaliptos eu consigo um rendimento médio de 300 euros por hectare e por ano?
– Bem não lhe posso garantir os 300 euros por hectare e por ano, pois isto dos créditos segue uma lógica de mercado e o preço tanto pode subir como baixar, mediante a procura e a oferta. Se houver compradores dispostos a pagar 100 euros por crédito, significaria um rendimento anual de 500 euros por hectare, se apenas houver compradores dispostos a pagar 10 euros por crédito, significaria um rendimento anual de 50 euros por hectare.
– Então o que tu estás a dizer é que eu me comprometo por 40 anos e não sei bem o que vou ganhar? Então e quando não conseguir vender os créditos produzidos num determinado ano a mais de 10 euros a unidade, quem é que vem tratar das arvores? Não as posso deixar morrer, pois não?
– Não, não pode. Aliás tem que garantir que não existem........
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