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Processo de conversão eleitoral

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22.04.2025

É argumentável1 que as ideias2 e ideologias3 que os partidos4 políticos5 apregoam constituem uma forma6 de religião7. E é verificável que todos os partidos têm credos, clero8, divindades e rituais. Havendo, todavia, uma clara imposição constitucional de separação do estado da religião (Art.º 41.º §4) não é claro porque razão as autoridades competentes permitem que as seitas religiosas que se auto denominam ‘partidos políticos’, intentem a conquista & domínio do estado mediante o ataque descarado que é comummente conhecido como ‘processo eleitoral’.

Como é sabido, o ‘processo eleitoral’ consiste essencialmente na aliciação de eleitores para, de alguma maneira, aderirem a um credo e votar em conformidade. No nosso país, este processo de sedução de votantes tem envolvido, em grande medida, como repetidamente tem sido demonstrado em numerosos artigos de opinião no Observador, a distribuição de benesses monetárias e para-monetárias, disfarçadas de políticas económicas, de coesão social, educação, rendimentos, saúde, etc., a certos indivíduos, grupos e estratos populacionais.

Embora não faltem exemplos próximos e recentes, porque estão não só disfarçados de ‘políticas governamentais’, mas também são enublados por paixões ardentes, acesas pelos interesses particulares de cada um de nós, não parecem adequados para ilustração didática de como o processo funciona. Assim parece apropriado recordar9 um exemplo antigo e distante, encontrado num manuscrito japonês, que demonstra de um modo claro como o processo funciona e os riscos que o acompanham:

“Em Akasaka, bairro sito na urbe baixa de Edo, a capital do Xogum, havia uma sociedade da seita Hokke, cujos partidários se congregavam, a espaços regulares e alternadamente, na morada de algum dos seus membros, para devotarem uma hora sacra a rufar don-don seus tambores e entoar a sagrada escritura Namu Myoho Renge Kyo para a edificação das suas almas e preparação para a morte10. Numa certa noite, assim se reuniram no lar de um dos seus, contígua à habitação de certo carpinteiro, e num breve intervalo de descanso das suas devoções, ouviram o honesto varão da casa ao lado, que era militante na seita Jōdo, a tanger o seu sino e a entoar a costumeira invocação a Amida.

Então, proferiram uns aos outros: ‘Este carpinteiro é um cidadão pestífero, perturbando a quietude com a vã algaravia da sua denominação errónea, alheia ao verdadeiro caminho da devoção e prece.’ E um deles aduziu: ‘Seria para nós um louvável feito convertê-lo à nossa honorável seita Hokke, que é o único & verdadeiro caminho para a felicidade e salvação neste mundo.’ Destarte, elegeram os três mais virtuosos e eloquentes dentre eles, e estes, saindo, golpearam com o punho a porta da residência do carpinteiro que, interrompendo a sua entoação de Namu........

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