Pelos 25 Anos da Declaração Dominus Iesus
No passado dia 6 de Agosto completaram-se 25 anos da Declaração Dominus Iesus (DI), produzida pela Congregação (actual Dicastério) para a Doutrina da Fé, que é um organismo da Cúria Romana que tem por encargo pontifício a promoção e a defesa da doutrina da fé e da moral católica. Foi apresentada dia 5 de Setembro pelo seu principal responsável, o então Prefeito da Congregação, cardeal Ratzinger (que viria a ser eleito, cinco anos depois, Papa com o nome Bento XVI).
Estávamos em pleno Grande Jubileu do Ano 2000 da Encarnação de Jesus Cristo, e como a penetração do relativismo religioso já então estava muito difundido pelos diversos ambientes culturais, seculares e até teológicos e eclesiais, o Papa João Paulo II entendeu ratificar e confirmar “com ciência certa e com a sua autoridade apostólica” este documento que ostenta o subtítulo “sobre a unicidade e a universalidade salvífica de Jesus Cristo e da Igreja”. O objectivo final da DI é clarificar verdades essenciais a respeito da Pessoa de Cristo e da Sua Igreja, não se furtando a denunciar alguns erros fundamentais a respeito; sendo que, nele, não consta nada doutrinalmente novo.
O documento, sobretudo pela reafirmada pretensão universalista da fé católica (et pour cause), ainda que não absolutamente exclusivista, gerou imensas reações por esse mundo fora e dentro da própria Igreja Católica, quer de defesa quer de franca e aberta contestação, esta, principalmente de sectores liberais e pró-modernistas; e também em meios Protestantes, Ortodoxos, e até islâmicos e judaicos. As acusações provenientes dos ambientes cristãos, por erróneas interpretações, apontavam para um crescendo de dificuldades ou mesmo retrocesso no ecumenismo; e da parte dos não-cristãos, também se manifestaram receios pelo diálogo inter-religioso. Curiosa foi a declaração de um representante hindu ao afirmar: “preferimos um diálogo onde cada um fale a partir da sua convicção sincera, ainda que acredite possuir a verdade, a um onde as diferenças se dissimulem por cortesia” … ou por motivos tácitos ou pastorais, diria eu.
Semanas depois da apresentação no Vaticano, ou seja a 22 de Setembro, já o cardeal Ratzinger respondia aos críticos da DI, acrescentando esclarecimentos sobre a mesma, numa entrevista a um jornal alemão de grande difusão (Frankfurter Allgemeine Zeitung). Com os alemães, berço da Reforma protestante, a polémica foi sobretudo de carácter eclesiológico, pois o conceito católico de Igreja não se aplica àquelas comunidades cristãs por estarem desprovidas da sucessão apostólica devido á ausência ou à invalidez do sacramento da Ordem.
As intensidades do clamor dos sectores cristãos, perante reafirmações tão claras da doutrina católica, só tornaram mais evidentes as divisões que já então, como hoje, feriam a Igreja. João Paulo II, inusitadamente, decidiu sair ele mesmo em defesa pública do documento, relevando a sua importância. A 1 de Outubro, por ocasião da oração do Angelus, dedica quatro parágrafos do texto a respaldar a Declaração. Afirmou então o santo Papa:
“No auge do Ano Jubilar, com a Declaração Dominus Iesus (Jesus é o Senhor) por mim aprovada de modo especial, quis convidar todos os cristãos a renovar a sua adesão a Ele na alegria da fé, testemunhando unanimemente que Ele é, também hoje e amanhã ‘o caminho, a verdade e a........
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