União das direitas? Je t’aime, moi non plus
Eis que as eleições legislativas de 2025 parecem ter posto fim ao domínio da esquerda em Portugal. Nos últimos 30 anos, desde Outubro de 1995 — quando o PS, então liderado pelo Dr. António Guterres, venceu as eleições legislativas — o Partido Socialista esteve no poder durante quase 22 anos, enquanto o PSD governou cerca de 8 anos (e alguns meses).
Durante esse longo período de governação, o PS foi responsável, em primeiro lugar, por uma intervenção da União Europeia em 2002 (o Procedimento por Défices Excessivos). Mais tarde, mergulhou a economia portuguesa numa crise que culminou num pedido de resgate financeiro em 2011 — tendo o PS sido obrigado a assinar um Memorando de Entendimento com o FMI. Convém recordar — e aproveito para o fazer sempre que surge a oportunidade — que foi o Partido Socialista quem trouxe a Troika para Portugal, na sequência de políticas económicas deveras contestáveis. Foram os socialistas que assinaram o Memorando. Ou seja, Pedro Passos Coelho limitou-se a executar aquilo que já estava acordado. Não teve alternativa. O mínimo que se pode dizer, olhando hoje com algum distanciamento, mais de uma década após a sua saída do poder, é que geriu a situação como podia (e não podia muito), tirando o país de uma conjuntura extremamente difícil.
Para além da economia, o PS revelou-se desastroso noutras áreas. Implementou experiências pedagógicas no sector da educação que conduziram ao estado actual das escolas: uma parte significativa dos alunos é analfabeta funcional — sabe ler, mas não compreende o que lê. Foi também o PS que, ao abolir a chamada “lei do sangue” em 2006, deu um golpe na nossa identidade. E foi o PS o grande responsável por uma política de fronteiras abertas desde 2015 levando à entrada de mais de um milhão de imigrantes em menos de 10 anos, fora os que já viviam cá (cerca de 15% da população é estrangeira ou de origem estrangeira em Portugal), muitos deles oriundos de países do chamado terceiro mundo, com culturas, hábitos, costumes e crenças profundamente diferentes da cultura portuguesa e da nossa religião histórica: o Cristianismo católico.
Com este historial preocupante, haverá realmente quem se tenha surpreendido com a pesada derrota da esquerda nas eleições de 18 de Maio e com a consequente vitória da direita?
Porém, o que nos devia interessar é a vitória da direita. A direita venceu as eleições, sim, mas… será que alcançou realmente o poder de mudar as coisas? Sim e não. Sim, porque teoricamente a direita tem mais de 2/3 dos deputados, o que lhe permite mudar a Constituição (e a sua visão socialista poeirenta). Não, porque para isso acontecer seria preciso o PSD aliar-se ao Chega, convidando-o para uma coligação governamental, o que pelos vistos não vai acontecer. Nem sequer para escolher um vice da AR que venha do Chega (neste caso, o Sr. Diogo Pacheco de Amorim) a direita consegue chegar a acordos.
Como sempre, a chamada “união das direitas” é uma miragem. A esquerda consegue unir-se quando é preciso, a direita não. O PS do Sr. António Costa teve a ajuda – e aceitou-a de bom grado – da extrema-esquerda do PC e do BE. O PSD prefere dizer que “não é não” ao Chega.
E não é só em Portugal! Em Espanha os conservadores e o Vox também têm dificuldades em aliar-se; pelo contrário os socialistas espanhóis não têm dificuldades em aliar-se a comunistas e trotskistas do Podemos, nem a independentistas esquerdistas catalães (que haviam cometido graves ilegalidades). Em França os socialistas (moribundos) aceitaram aliar-se a comunistas e a islamo-esquerdistas, a La France Insoumise, para as legislativas de 2024. Pelo contrário, não só os conservadores franceses nada quiseram com a direita radical do RN (que de radical pouco tem hoje em dia), como houve membros do centro-direita, tal como um certo Xavier Bertrand, deputado dos Les Républicains, que apelou ao voto no PCF (comunistas franceses) contra o RN. Um deputado da direita que apela ao seu eleitorado para votarem em comunistas em vez de nacionalistas? Surreal? Não… É o que chamamos em França........
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