Bürgerfest: Quando a polémica é a própria estratégia
Nos últimos dias, circulou nas redes sociais um vídeo em que André Ventura, líder do Chega, parece confundir o festival “Bürgerfest” com uma suposta festa de hambúrgueres, revelando um aparente desconhecimento da natureza do evento — uma iniciativa cultural urbana com programação artística e musical. A discussão instalou-se: terá sido um lapso genuíno? Um sinal de ignorância? Ou um golpe de comunicação premeditado?
A meu ver, esta discussão está mal colocada. O que interessa não é saber se foi erro ou estratégia. O que verdadeiramente importa e que deveria preocupar os profissionais da comunicação, os analistas políticos e os cidadãos atentos é a forma como, independentemente da origem, a extrema-direita transforma estes momentos em capital político, visibilidade mediática e reforço de identidade.
Trata-se de um fenómeno amplamente estudado nas últimas duas décadas, com origem nos Estados Unidos, mas já presente, de forma plena, em Portugal: a polémica como método, o escândalo como rotina, a indignação como estratégia. E mais, a erosão da verdade como princípio orientador da opinião pública.
Benjamin Moffitt (2016), no seu influente “The Global Rise of Populism” explica que o populismo contemporâneo é melhor compreendido como um estilo performativo. Os líderes populistas encenam uma crise permanente, alimentam antagonismos e posicionam-se como os únicos representantes do povo autêntico contra as elites corruptas. Na prática, isso traduz-se numa estratégia reiterada. Provocar, gerar escândalo, colher reações, reforçar a base de apoio. Como escreve Moffitt, “a manutenção da crise não é um subproduto, mas um objetivo. A crise é funcional.”
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