Europa - hesitação estratégica e irrelevância geopolítica
A União Europeia enfrenta uma encruzilhada estratégica que já não pode ser ignorada. A sua sobrevivência enquanto ator geopolítico autónomo depende da capacidade de ultrapassar bloqueios internos persistentes, redefinir prioridades e abandonar a ilusão de estabilidade garantida por terceiros.
A realidade é desconfortável, a Europa combina a condição de potência económica global com a fragilidade de um ator político condicionado, institucionalmente fragmentado e dependente de garantias externas que se tornaram imprevisíveis. A ilusão de estabilidade assegurada por aliados transatlânticos esbate-se perante a evidência de que a segurança delegada é insustentável num sistema internacional em recomposição. A retração estratégica dos Estados Unidos, a ausência de liderança europeia com autoridade política e a exploração sistemática das vulnerabilidades internas por parte de potências como a China e a Rússia revelam os limites de um modelo centrado em ambições normativas sem capacidade de projeção. A Bússola Estratégica de 2022 (Strategic Compass for Security and Defence) definiu objetivos concretos, mas a sua concretização permanece incerta.
Liderança frágil e arquitetura disfuncional: Desde o final da Guerra Fria, a União Europeia não desenvolveu uma cultura estratégica comum nem mecanismos de resposta eficaz à sucessão de crises que enfrentou. A sua política externa continua condicionada por interesses nacionais divergentes e pela ausência de um comando político estruturante. O modelo de governação intergovernamental, com sobreposição de competências e uma presidência rotativa pouco funcional, tem produzido decisões fragmentadas, incapazes de sustentar uma orientação estratégica coerente. A inexistência de uma liderança europeia com legitimidade e visão de........
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