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Viagens marítimas, naufrágios e perdições

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28.03.2025

A História Marítima de Portugal nos séculos XV e XVI pode ser vista como os alvores da globalização, pois foi nesse período que se abriram novas rotas oceânicas, viabilizando conexões intercontinentais complexas.

A transposição das navegações do mundo mediterrânico para o Atlântico, no século XV, e, posteriormente, a expansão do domínio marítimo do Atlântico para o Índico, no século XVI, através da rota do Cabo aberta pela viagem de Vasco da Gama, constituiu um fenómeno histórico que desencadeou conexões entre diferentes geografias e poderes políticos e mercantis, permitindo redesenhar os mapas e ampliar o conhecimento do mundo. De forma simultânea, desenvolveram-se processos de interação com a diversidade antropológica, cultural e linguística, questionaram-se crenças e modos de viver, redefiniram-se identidades, construíram-se feitorias e fortalezas para o resgate de ouro e de gentes, formou-se o Estado Português da Índia, tomou corpo o empreendimento missionário.

Há 600 anos, o grande mar-Oceano tornava-se a “estrada líquida” cruzada por caravelas, naus e galeões portugueses, permitindo o trânsito de milhares de homens – marinheiros, militares, escrivães, quadros administrativos da coroa, mercadores e aventureiros – que circulavam num império em rede, de fronteiras fluidas e disperso por todos os continentes.

Lisboa era então a metrópole das novidades da Europa e a sua ligação aos longínquos mercados asiáticos, através da regular Carreira da Índia, ainda que obedecesse a um trajeto e calendário mais ou menos fixos, envolvia sempre uma poderosa dimensão de aventura, superação e risco. Era necessário conciliar a fase da navegação atlântica, aproveitando os ventos favoráveis, de modo que as armadas entrassem no Índico com a monção de sudoeste, permitindo assim o prosseguimento da viagem até aos portos da Índia.

Entre a chegada a estes portos, nomeadamente Cochim, e a torna-viagem, era forçoso que se procedesse à reparação das naus nos estaleiros e era necessário haver liquidez monetária para a compra de toneladas de especiarias e........

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