A alegoria da barraca
Em Loures, nas planícies que testemunharam o labor e a construção do nosso país, assistimos hoje a um evento que transcende a mera demolição: a eliminação das barracas no bairro do Talude. Um assentamento, maioritariamente composto por africanos, por aqueles que, por diversas vias, procuraram o nosso solo. Platão, na sua intemporal alegoria da Caverna, convida-nos a questionar as sombras que nos são mostradas, e é imperativo que o façamos agora, perante a realidade que se desenrola. Há já desmesurado tempo, permitimos que uma teia de ilusões velasse a percepção de uma verdade incómoda.
Por 2.000 euros, cada um desses indivíduos adquiriu não um pedaço de Portugal, mas uma sombra fugaz de estabilidade, uma promessa incerta de pertença. Construíram com as suas próprias mãos, uma edificação sobre as areias movediças de uma situação irregular, invariavelmente ao arrepio das leis e do planeamento. O dono dos terrenos, o “senhor” desta caverna moderna, projectava a imagem de........
© Observador
