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O eco da Razão

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26.09.2025

A inteligência humana, esse frágil milagre da carne, aprende a duvidar, a inventar, a tropeçar em si mesma e a levantar-se reinventada. A artificial, pelo contrário, ecoa. Repete-nos com um brilho estatístico, oferece-nos a ilusão de profundidade, mas nunca mergulha. É como conversar com um espelho: devolve-nos palavras, mas não há ninguém atrás do vidro. O risco não está no eco em si, afinal, ele pode ser útil, até belo, mas na nossa tentação de o tomar por voz. A distinção entre original e reverberação é, talvez, a essência do pensamento crítico. E nessa distinção, mais do que no cálculo das máquinas, repousa a dignidade daquilo a que ousamos chamar inteligência.

Há um certo desconforto intelectual quando se fala de “inteligência artificial”. O termo, mais do que uma descrição técnica, soa a um logro semântico digno de uma boa campanha publicitária. Como quem chama “néctar dos deuses” a um refrigerante, também nós insistimos em nomear de “inteligência” um conjunto de algoritmos estatísticos que, se fossem honestos, atenderiam pelo nome de optimizadores de correlações em alta dimensionalidade. Mas, claro, isso não venderia tão bem.

Enquanto o cérebro humano, com os seus 86 mil milhões de neurónios e uma modesta lâmpada de 20 watts como consumo energético, consegue imaginar universos inexistentes, inventar mitologias, as redes neurais artificiais limitam-se a ajustar pesos num espaço vetorial. Chamamos-lhes “neurónios”, como se isso fosse uma piscadela de cumplicidade biológica, mas eles........

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