Projetar hoje com o clima de amanhã
As alterações climáticas deixaram de ser uma previsão a longo prazo para se tornarem num desafio do presente. O aumento da temperatura, a precipitação intensa de curta duração, a subida do nível médio da água do mar e a frequência crescente de eventos naturais extremos estão a pôr à prova a resiliência das infraestruturas de transporte em Portugal e no mundo. Os extremos climáticos sempre existiram, mas é inequívoco que o clima está a mudar. Esta mudança deverá traduzir-se num aumento da frequência desses eventos, tais como ondas de calor, cheias e inundações.
Vejamos a onda de calor na Europa, em julho de 2022, que expôs a vulnerabilidade das infraestruturas aos extremos máximos diários da temperatura. Em Londres alguns elementos estruturais da ponte centenária de Hammersmith foram envolvidos com película de alumínio para refletir os raios solares e minimizar dilatações térmicas e fissuração do material metálico; nas linhas férreas, alguns segmentos de carris foram pintados de branco de forma a reduzir os danos relacionados com as expansões térmicas.
Mas os impactos não são exclusivos de zonas urbanas. Basta recordar alguns acontecimentos recentes no interior de Portugal, na sequência de tempestades repentinas. Por exemplo, em dezembro de 2022, a ponte sobre a Ribeira Grande, de origem romana e reconstruída no século XVI no concelho de Fronteira, sofreu danos significativos devido a fortes chuvadas que provocaram a subida rápida do nível da água da ribeira. Deverá ser construída uma nova ponte a montante da ponte histórica, para uma cheia com período de retorno de 100 anos, ou seja, com uma probabilidade de 1% por ano, e para uma cota superior do tabuleiro em relação à histórica. Em maio de 2023, a subida rápida das águas de um ribeiro derrubou uma ponte rodoviária no........
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