Regresso a casa
“Descreva-me a sua terra”, pedia-me ele. Eu voltava de comboio à minha terra para o Verão. Trazia um caderno finamente ornamentado que rabiscava pelo caminho. Isto foi antes do fim da caligrafia, quando ainda conseguia escrever à mão. (Lembro-me de outra imagem insistente: a de ter havido uma máquina durante anos no mar, junto da costa. Eu era criança e diziam-me que a máquina lavava a água. A máquina modificava a vista, como a ponta de um iceberg. Com o tempo, porém, a máquina já fazia parte da paisagem. Penso que ninguém tem disto uma memória poética. A mim atormentava-me a imobilidade da máquina perante o esforço da drenagem, que me parecia desmesurado. A máquina no mar daria início à coda balnear de que vivemos........
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