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O verdadeiro copianço é fingir que a IA não existe

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13.07.2025

Vivemos um tempo de vertiginosa aceleração tecnológica. A inteligência artificial (IA) já não é uma promessa distante — é uma presença concreta, que reconfigura o modo como aprendemos, pensamos e agimos. Entre o fascínio pela sua capacidade e o receio das suas consequências, emergem diagnósticos e polémicas. Um estudo recente do MIT lançou o alerta: estudantes que recorrem ao ChatGPT podem apresentar um “défice cognitivo”, visível na diminuição da retenção e do pensamento crítico. Mas talvez a questão esteja mal colocada. A ameaça real não é a IA. É persistirmos em olhar para a educação com os olhos do século passado.

A verdadeira ameaça cognitiva não reside no uso da IA, mas na relutância em compreendê-la — e, sobretudo, em integrá-la com ética e discernimento na arquitetura da aprendizagem. Ignorar hoje o potencial da IA equivale, em termos funcionais, a recusar aprender a ler no século XX. Certas instituições já o perceberam. A Wharton School, a Darden School of Business e a Carey Business School, para citar apenas algumas, não só distribuem licenças do ChatGPT Enterprise aos seus alunos, como criaram cadeiras de ética algorítmica, lançando licenciaturas e mestrados que articulam gestão e inteligência artificial. Em Portugal, a Nova SBE e o ISEG, entre outras, também trilham esse rumo inovador, mostrando que liderar é ousar reaprender.

Para compreender a mudança, urge desfazer um equívoco estrutural: a IA não é apenas uma ferramenta — é um novo agente cognitivo. Tal como a linguagem molda o pensamento, também a IA, se usada com critério, transforma o modo como raciocinamos, interpretamos e criamos.

O medo e o alarme não são novos. Quando as calculadoras começaram a entrar nas salas de aula, temia-se que os alunos deixassem de decorar a tabuada, passando apenas a copiar os resultados das operações. Hoje, teme-se que o ChatGPT substitua a memorização das respostas por uma cópia acrítica. Mas a função da escola não é formar reprodutores automáticos de conhecimento — é formar pensadores. O tal risco de “défice cognitivo” reside precisamente na transformação dos estudantes em “máquinas de memorizar”, não estimulando as suas mentes e rejeitando diálogos construtivos com a IA. E isso é um erro, pois, tal como a calculadora libertou o raciocínio das operações mecânicas, também a IA pode libertar a cognição da repetição cega e projetar o........

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