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Silêncios, omissões e as promessas por cumprir

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08.07.2025

Diz-se, com frequência, que um país se mede pela forma como trata quem cuida dos seus cidadãos. E, no entanto, continua a ser com um silêncio desconcertante que se acolhe, em documentos estruturantes de governação, a realidade de quem garante, diariamente, o funcionamento do sistema de saúde, a coesão dos territórios e a dignidade dos cuidados em contextos de maior vulnerabilidade. O recente Programa do XXV Governo Constitucional repete o ritual habitual de intenções: valorizar o trabalho, rever carreiras, combater a precariedade e atrair jovens qualificados. Mas entre o anúncio e a prática, entre a promessa e o compromisso efetivo, instala-se um vazio perigoso. A ausência de referências concretas à Enfermagem – o maior grupo profissional do Serviço Nacional de Saúde – não é um lapso menor. Espelha o modo como, estruturalmente, se continua a desconsiderar uma profissão cuja relevância ultrapassa em muito a sua dimensão técnica.

Esta ausência simbólica tem consequências materiais. Basta olhar para as carreiras dos enfermeiros: estruturalmente desatualizadas, sem valorização efetiva da especialização, sem progressão justa e com um sistema de avaliação que se arrasta com critérios nem sempre adequados à especificidade da hierarquia profissional e contextos de exercício. Há quem fale de mérito, mas não há mecanismos transparentes que o reconheçam. Há quem proclame modernização, mas ignora as dinâmicas de estagnação que dominam o setor. O resultado é visível: profissionais desmotivados, rotatividade crescente, perda de talento qualificado para sistemas de saúde estrangeiros e, sobretudo, uma........

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