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Alguém tem que ceder

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15.03.2025

Desde a (re)eleição de Donald Trump, como presidente dos Estados Unidos, que o mundo vive em sobressalto e a Europa num frenesim particular. As ondas de choque do terramoto de 5 de Novembro ainda não pararam, parecendo trazer uma alteração substantiva da relação transatlântica e da situação geopolítica em que vivíamos. Ondas essas que se multiplicam pelas mais diversas áreas, com réplicas mais ou menos esperadas para várias políticas europeias, seja na defesa, na segurança, na energia, nas migrações e no digital. Tal é o vórtice em que estamos que, para mim, é ainda muito cedo para percebermos o que está a acontecer e qual é o novo tabuleiro em que iremos jogar e com que regras, aconselhando a prudência, mais análise e menos opinião, mais perguntas e menos certezas.

Se isto é genericamente válido, na área do digital parece, no entanto, ser já bastante evidente qual é jogo que os Americanos estão a jogar, no qual parece que os interesses dos grandes players, as Big Tech, e da nova Administração estão alinhados numa série de aspectos, sobretudo nos mais fundamentais, como seja uma defesa mais musculada dos interesses das tecnológicas americanas no plano global. E isso coloca, Estados Unidos e Europa, em lados opostos, com fracturas mais ou menos profundas entre eles, em temas como o fact checking, o desenvolvimento da Inteligência Artificial (AI), a regulação das plataformas digitais, a protecção de dados, entre muitos outros.

Desde as semanas que antecederam a eleição de Trump e, em especial, nos dias à volta da sua tomada de posse, as movimentações dos “grande patrões do digital” começaram a deixar claro que a defesa dos seus interesses vai ser uma guerra que a nova Administração Americana está disponível – diria, até, ansiosa – por comprar com os Europeus. Dos grandes, todos tiveram lugar de destaque no Capitólio, no dia 20 de Janeiro: Jeff Bezos (Amazon), Elon Musk (X Corp), Mark Zuckerberg (Meta), Sundar Pichai (Google/Alphabet), Tim Cook (Apple) e Sam Altman (OpenAI). E todos eles, de uma ou outra forma, foram dando sinais de alinhamento ou de aproximação à nova administração e foram deixando críticas à regulação Europeia, aos mecanismos que consideram de censura e à forma como têm sido tratados pelos decisores políticos Europeus.

A estes juntam-se ainda os gigantes da produção de conteúdos que também estão a reposicionar-se e a reduzir de forma mais ou menos discreta os compromissos com as políticas DEI (Diversity, Equity, and Inclusion). A Disney, a Warner Bros., a Paramount Global, a Comcast (Universal Pictures / NBC Universal) e até a Netflix, uma pioneira na diversidade e inclusão, todas estão a rever prioridades e a alinhar estratégias com os novos tempos. Mais importante ainda, todas estas empresas americanas vêem com bons olhos as ideias de menos regulação, mais America First e mais incentivos ao desenvolvimento da Inteligência Artificial, sem grandes entraves regulatórios. Tudo políticas defendidas por Trump. E, sobretudo, gostam de uma administração que as defenda daquilo que muitas delas sentem como ataques dos decisores políticos Europeus e uma espécie de “caça à multa” versão regulamento europeu.

Do lado da administração, eleita numa plataforma America First e com uma visão particular sobre o comércio internacional, esta aliança não causa........

© Observador