Sim, quero viver numa cidade, mas numa cidade com raízes
Discutir o desenvolvimento das cidades do interior de Portugal é, acima de tudo, discutir que país queremos ser. Um país sustentável, seguro e atrativo para os seus jovens — e para jovens do mundo que aqui queiram construir vida — não pode confundir pressa com progresso. A tentação do “crescimento fácil” existe: licenças rápidas, betão rápido, empregos rápidos. Mas a história recente mostra o preço elevado da velocidade sem estratégia: quando o ciclo passa, ficam o desemprego, as rendas vazias e os fantasmas de betão.
O retrovisor não engana. O Vale do Ave e a Cova da Beira conheceram, com a crise do têxtil, a dureza da deslocalização; a Marinha Grande sofreu com as quebras no setor dos moldes e plásticos, ainda que parte do tecido empresarial tenha conseguido subir na cadeia de valor; a metalomecânica e a indústria naval viveram reestruturações profundas na bacia de Setúbal e noutras zonas. O padrão repete-se sempre que uma região depende de um único ciclo, de um único cliente, de uma única promessa. Hoje, sob outras roupagens — parques logísticos, fast fashion, retail parks periféricos, urbanização intensiva — arriscamo-nos a reeditar o mesmo erro no interior do país.
Os efeitos negativos desse “urbanismo rápido” são conhecidos:
Emprego precário e vulnerável a choques externos, que desaparece tão depressa quanto surgiu.
Custos futuros de manutenção de infraestruturas dispersas, que pesam sobre orçamentos municipais e sobre os contribuintes.
Perda de solo para parques verdes, agrícola e florestal, maior exposição a incêndios e cheias, mais emissões e mais dependência do automóvel.
Centros históricos vazios, comércio de proximidade asfixiado e identidades locais diluídas.
Pior coesão social e maior insegurança subjetiva, fruto de espaços públicos degradados e de comunidades desenraizadas.
Sinais de alarme a que cidades e cidadãos devem estar atentos:
Expansão urbana acelerada sem reabilitar primeiro o edificado existente.
Grandes........
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