As eleições que ninguém quis
Tudo começou a meio do mês de fevereiro quando veio a público que o atual Primeiro Ministro de Portugal, Luís Montenegro, detém – ou detinha, aos dias de hoje -, uma empresa familiar, que presta, ou prestava – visto a relação comercial ter cessado nos últimos dias – serviços à sociedade Solverde, entre outros clientes. Estalou a polémica, pois poderá haver um conflito de interesses entre a atividade pública do primeiro-ministro, e a consultoria que a empresa familiar prestava à Solverde.
Ao longo de três semanas, a polémica foi aumentando, com os partidos da oposição a exigir explicações a Luís Montenegro e com o primeiro-ministro a dar as explicações que entendeu ao país. A verdade é que até hoje, a oposição não está satisfeita com as explicações dadas e o primeiro-ministro não está satisfeito com a desconfiança dos deputados da Assembleia da República.
As duas moções de censura nas últimas duas semanas foram, como se sabe, rejeitadas, a segunda através da abstenção do Partido Socialista e do Chega e dos votos contra da Iniciativa Liberal, CDS, e Partido Social Democrata.
Apesar da rejeição das duas moções de censura, o PS, veio a público explicar que se absteve na última moção de censura, mas que o seu voto seria diferente se de uma moção de confiança se tratasse Aos olhos do primeiro-ministro, esta posição fragilizou a posição do atual governo e do próprio Luís Montenegro, o que, tendo em conta o atual contexto político português, fez com que o primeiro-ministro, comunicasse a sua intenção de apresentar uma moção de confiança a fim de reforçar a sua posição.
A moção de confiança ao XXIV Governo da República Portuguesa foi rejeitada pelo Chega, Partido Socialista e Bloco de Esquerda, o que implicou a queda do governo.
Chegados aqui, muitas perguntas surgem, sejam elas sobre a condução de todo este processo, sejam sobre o que o futuro nos reserva.
Relativamente a quem é o responsável pela crise política que atravessamos, é indubitável Luís Montenegro. Não é responsável pela crise por ter uma empresa da qual cedeu as quotas, ou porque, alegadamente, poderá não ter preenchido os formulários todos da declaração de interesses. É sim responsável pela atitude que assumiu ao longo do processo. Teve sempre uma posição distante, pouco clara, e que foi mudando ao longo dos dias. Pede-se ao líder do governo, que seja claro, transparente e conciliador. Pedia-se ao primeiro-ministro que tivesse a hombridade de assumir o erro, esclarecesse os deputados e os portugueses, e que encerrasse este tema assumindo as suas falhas e resolvendo a questão de forma democrática e transparente.
O senhor primeiro-ministro decidiu ter uma atitude diferente e agora terá de lidar – e teremos todos – com as consequências dos seus atos e palavras. Luis Montenegro saiu beliscado desta polémica,........
© Observador
