O silêncio dos inocentes
O interior de Portugal continua a viver num silêncio que não é acaso, mas sim consequência de décadas de opções políticas concentradas no litoral. O discurso oficial insiste na coesão territorial, mas as práticas mostram o contrário: onde a densidade populacional é menor, a atenção política também o é, porque o peso eleitoral dessas comunidades é reduzido. O resultado é um país dividido em duas velocidades, onde algumas regiões se desenvolvem e outras resistem como podem. O sintoma mais recente deste desequilíbrio está no acesso ao ensino superior: neste ano lectivo, tanto universidades como politécnicos do interior foram os que menos vagas preencheram, com lugares por ocupar muito acima da média nacional. A pergunta impõe-se: que mensagem estamos a passar aos jovens? Que o interior não interessa nem sequer para estudar? Se até as instituições que deviam ser motores de conhecimento e inovação não conseguem fixar estudantes, como poderemos esperar que o tecido económico e social se regenere?
Este esvaziamento progressivo não se explica apenas pela demografia. É o reflexo de uma arquitectura de incentivos que empurra pessoas e investimento para a faixa costeira. É no litoral que se concentram os empregos mais qualificados, as redes de transporte eficazes, os serviços públicos completos, a oferta cultural variada e, consequentemente, a maior parte das oportunidades de vida. O interior, pelo contrário, vai sendo associado à falta: falta de emprego, de serviços, de perspectivas. Não surpreende, por isso, que as instituições de ensino superior sediadas no interior lutem para atrair estudantes,........
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