Onde estão as lideranças?
Já não há políticos como antigamente. As elites não estão à altura. É o que se ouve em quase todo o lado. Onde estão os políticos que poderíamos equiparar a Soares e a Sá Carneiro? Onde estão os sucessores europeus de Churchill e de Gaulle? Há, com certeza, por aí fora gente com qualidade, têmpera e força interior. Por que razão não estão na política? Ou se estão, por que não são ouvidos? Por que motivo não se impõem e perdem para personalidades mais fracas?
Antes de mais nada é preciso reconhecer que os que hoje consideramos como gigantes foram, na sua época, marginalizados ou vistos como fracos e errantes, personalidades sem rumo nem destino. Na melhor das hipóteses, pessoas desligadas da realidade. O general de Gaulle era um desconhecido e poucos escutaram o seu apelo à resistência de 18 de Junho de 1940. Antes disso, e nas vésperas da capitulação francesa, de Gaulle era uma figura secundária com cargos menores e apenas os seus sucessos militares para conter o avanço alemão despertaram alguma atenção, rapidamente negligenciada porque a derrota foi considerada a única solução possível pela classe política que se dizia responsável. Churchill era um bêbado sem tento na língua. O historiador britânico Andrew Roberts recorda-nos que Chamberlain, na Câmara dos Comuns, troçou da pretensa falta de discernimento político de Churchill. Faltava pouco para Hitler invadir a Polónia, mas a grande maioria dos deputados riu-se com satisfação. Já quanto a Soares e a Sá Carneiro é importante não esquecer o que deles se dizia: o primeiro que não conhecia os dossiers e que falava por falar; o segundo que não era de fiar por ser intempestivo e imprevisível. O que hoje são qualidades, noutros tempos foram defeitos........
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