O prepúcio de Pasinyan, Primeiro-Ministro arménio
O título deste texto pode parecer ridículo e até ofensivo. Nada disso. Expressa a ponta (e digo isto sem qualquer ironia) de um drama que se tem desenvolvido na Arménia. Um drama, ao qual se tem dado, injustamente, pouca atenção. E isto apesar de estarmos mais habituados a ‘medir a atenção’ do que a ‘medir a tensão’. Será que também já achamos que o essencial na boa-educação é obter um ‘sim’ sem se fazer um pedido? [Albert Camus]
Ofuscados pelo acordo de ‘quase paz’ entre a Arménia e o Azerbaijão, logrado por Donald Trump nos últimos dias e por sinal interligado com o tema deste texto, os mass media não têm visto o conflito que está a ocorrer entre o Governo arménio e a Igreja Católica arménia [ICA]. Ou se têm, não lhes tem parecido relevante, quiçá por estarmos adormecidos pela retórica edificante e luxuriante do palavreado da nossa ímpar classe política.
Confesso que apenas soube acerca do que está a suceder devido às notícias do referido acordo, mas desde então debrucei-me esporadicamente sobre o que levou ao que está a acontecer na geograficamente pequena, mas civilizacional grande, Arménia. É o resultado desse esforço que darei a conhecer nestas minhas palavras. Palavras que, segundo alguns críticos, são como as promessas divinas: superam toda a compreensibilidade. Lamento que assim seja.
O Governo arménio, com Pasinyan à cabeça (e de novo digo isto sem qualquer resquício de ironia), deseja estabelecer e consolidar uma ‘nova Arménia’; uma ‘Arménia real’. Quer dizer: uma Arménia desapegada dos ‘fantasmas’ do passado. Nesse sentido, rompeu a tradicional e preferencial ligação à esfera de influência à Rússia e pediu a adesão à União Europeia. Eis um passo que pode nascer mal e crescer ainda pior. Mas a cada um o seu calçado e o seu tropeço.
De facto, Moscovo já reagiu. E sem tartamudez. A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, chamou a Pashinyan “hipócrita”. Por seu lado, Vladimir Solovyov, feroz propagandista pró-Putin, disse que o caminho que a Arménia está a seguir poderá levar a........
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