Alasdair MacIntyre? Quem?
O título deste pequeno texto indica a perceção que tenho sentido, desde há semanas, a respeito do falecimento de Alasdair MacIntyre [AM] (12/01/1929 – 21/05/2025). Neste mesmo órgão de informação e – por que não? – de formação, noticiou-se, e bem, a morte: de Brian Wilson, de Artur Ramos, de Eduardo Gageiro, de Sly Stone, de Frederick Forsyth, de Nelson Matos, de Sebastião Salgado, de George Wendt, de Werenoi, etc. Mas de AM nem uma palavra. Pode-se dizer o mesmo da extrema generalidade dos demais órgãos informativos nacionais. Mas antes isso do que pensar-se que, pelo nome AM, havia falecido um qualquer treinador de futebol que só ia trabalhar depois de cinco “penalties”.
Revelará isto algo sobre quem (não) somos como povo? Sobre quem (não) somos como sociedade (in)culta? Sobre a existência (ou não) de facilidade de acesso a espaços de debate intelectual? Pergunto: onde estiveram, a respeito do falecimento do filósofo escocês AM, “apenas” um dos mais marcantes pensadores do séc. XX, a “¡Hola!”? A “Sábado”? O “Expresso”? Se calhar estiveram onde deviam estar e eu é que não me dei conta. Triste distração de quem [eu] nota frequentemente o recauchutar do pensamento de AM em tantos colunistas daqui e dali.
A trajetória intelectual de AM, e inclusive o ter abraçado o Catolicismo, pode explicar muito da dificuldade de se falar deste Autor – nem que num breve obituário. Mas não explica tudo a respeito do mutismo acerca da sua perda, que tentarei obviar de forma breve e amputada. Sim: o seu tomismo aristotélico-agostiniano revolucionário, ao colocar no centro do seu pensamento o espírito, a verdade e a relacionalidade atenta contra os dogmas fundamentais do liberalismo que oscila entre a autocracia individual e a mais ou menos mascarada ditadura da burocracia.........
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