A Esquerda atropelada pela realidade
As políticas de esquerda, e os seus respetivos partidos, foram derrotadas de forma histórica e devastadora. O Partido Socialista (PS), que nos últimos 50 anos tinha sido a força dominante, viu o apoio ruir a valores embaraçosos, podendo ainda ser ultrapassado pelo Chega no que toca a número de deputados. Este resultado deve-se sobretudo à incapacidade de compreender as frustrações do eleitorado, alheado das suas “bolhas” e preocupações com a estabilidade de um governo que eles próprios quiseram derrubar.
Para ajudar a este cenário aterrador, várias foram os comentadores que se apressaram a apontar todos os dedos das duas mãos, lastimando os resultados, a Pedro Nuno Santos, responsabilizando-o pela “catástrofe”, esquecendo-se que o mesmo PS, com a governação de António Costa, e se quisermos ser mais profundos, com a governação de Sócrates, já tinha lançado as sementes da sua própria decadência.
O resultado destas eleições é um indicador claro do cansaço dos portugueses com o modelo político que não consegue gerar crescimento económico nem progresso social. A teoria da esquerda não se traduziu em ações políticas com resultados palpáveis e o eleitorado cobrou o preço nas urnas.
Por estes dias, ouve-se e lê-se sempre a mesma ladainha de que a esquerda é a única origem de mudanças respeitáveis, mesmo que a factualidade dos últimos 50 anos contrarie essa teoria, e que qualquer outra escolha feita pelos eleitores não é legitima e indica que os eleitores são ignorantes. Mas essa narrativa caiu por terra. O país onde os órgãos de comunicação social absorveram e propagandearam a falácia de que um Estado forte poderia ser um instrumento de mudanças, viu-se confrontado com a verdade de que a mudança não foi provocada por eles. E, ainda mais importante, não foi percebida por eles.
As projeções falharam, os comentadores, que diziam que o Chega não cresceria mais, falharam, porque o desfasamento entre a bolha........
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