Guerra comercial: vai a OCDE entrar em recessão?
A 2 de abril, Trump impôs um nível exorbitante de tarifas sobre o Resto do Mundo. A média de 22-24% só é comparável com os níveis de 1910, quando os EUA eram o país mais protecionista entre os mais desenvolvidos. Embora suspensas por 90 dias, para dar lugar a negociações bilaterais,[1] estamos perante um choque sobre a economia mundial de elevadas proporções. Já parece certo que o cenário mínimo será uma tarifa uniforme de 10% sobre todas as importações. Embora possa gerar para o Tesouro americano uma receita de cerca de 300 mil milhões de dólares, por ano, vai impor sobre as famílias americanas uma despesa anual de 4,5 mil dólares por família, com maior peso nas famílias de menor rendimento. O impacto sobre o emprego e produção industrial depende em grande parte da retaliação dos outros países, mas a experiência histórica e as simulações dos modelos das organizações internacionais dão resultados negativos.[2]
O choque das tarifas de Trump deve provocar um corte no crescimento do PIB dos EUA de cerca de 1,4 pontos percentuais, para uma taxa em torno dos 0,5%. A UE deve ter um impacto bastante mais reduzido, de cerca de -0,4%, o que faz reduzir o crescimento esperado de 1,5%, previsto no outono do ano passado, para 1,1%. Nenhuma das organizações internacionais prevê uma recessão para este ano. Mas a nossa opinião é que ainda não se interiorizaram todos os impactos negativos.
Num horizonte de 2 a 3 anos, tanto a OCDE como o FMI preveem que serão os EUA quem mais vai sofrer em termos económicos de entre as grandes economias. Ao nível atual de tarifas, o FMI prevê a 2 anos, um corte de 1 ponto percentual para os EUA, -0,6 para a UE e -.4 para a China. A OCDE, num horizonte de 3 anos, um corte de 1,6 pontos para os EUA, e 0,5 para a UE. O Canadá teria um corte de 1,3 e o México de 2,8 pontos. No entanto, estas previsões parecem-nos pouco realistas, pois se tomarmos em conta as reações dos mercados financeiros e a propagação da incerteza, dificilmente os EUA e mesmo a UE evitarão uma recessão.[3]
Mas vai conseguir Trump atingir os seus objetivos com o choque das tarifas? Larry Summers, de Harvard, usou em várias entrevistas nos canais de televisão americanos a figura de que a política do Presidente dos EUA é como se “Trump estivesse a usar uma marreta numa sala de equipamentos eletrónicos” para resolver os problemas económicos. Como a nossa análise mostra, nem este choque de tarifas é apropriado para promover a re-industrialização nos EUA, nem para resolver a questão da segurança e os problemas geopolíticos do mundo atual, nem os problemas do Rust Belt da sua base de votantes. São necessárias políticas muito mais finas e orientadas para resolver estes problemas, depois de colocados na sua dimensão real, como temos vindo a defender.
Resta a visão de que Trump está apenas a jogar um jogo tit-for-tat, com bluffs à mistura, e que os seus verdadeiros objetivos são a redução das barreiras ao comércio externo pelo Resto do Mundo, reforçar as bases de segurança do Ocidente e conseguir um maior IDE nos EUA. Mas para isso, está a seguir uma tática perigosa, com elevados riscos económicos. E o nível de tarifas finais serão uma fração bastante reduzida das atuais!
O Quadro 1 mostra os cinco principais parceiros comerciais dos EUA, mais a Alemanha, ordenados pela importância que têm nas importações de bens dos EUA. Estes parceiros em conjunto representam 62,6% do total das importações de bens deste país. Os dois maiores são a China e a UE. A coluna a vermelho apresenta a tarifa média aplicada às exportações destes países à entrada nos EUA a 2 de abril de 2025. A coluna seguinte mostra que a importância destas exportações varia muito de país para país, ou bloco de países, sendo particularmente elevada para o México e Canadá, que têm dificuldade em substituir aquele mercado no curto prazo.
Fonte: Banco Mundial, dados para comércio de 2022
A última coluna apresenta as nossas projeções de reduções do PIB para cada economia exportadora para os EUA, resultado do choque das tarifas de Trump de 2 de abril, que são ligeiramente superiores às projetadas pelos organismos internacionais (ver mais abaixo, a secção C).
Um estudo do Council of Economic Advisers de 2015 concluía que as exportações dos EUA enfrentavam uma tarifa média de 8,8%, para além de numerosas barreiras não tarifárias, que comparavam com uma tarifa média de 1,2% dos EUA, chamando a atenção para a necessidade de fazer acordos comerciais com os diversos países para equilibrar as condições de concorrência. Apesar desta chamada de atenção do economista Furman ao Presidente Obama, nada se fez.
O Quadro 2 dá-nos os níveis médios de tarifas para os principais países e blocos comerciais. A China tem um regime muito mais........
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