Depois das eleições: o comum como tarefa
Depois das eleições, a Assembleia da República viverá anos difíceis. Correr de novo para eleições, não é opção. Esse seria o caminho para nos confrontarmos com um voto cada vez mais disruptivo. É preciso que as eleições valham, mesmo sabendo que serão anos em que a casa da democracia estará sem tecto, transformada num palco de guerrilha, num circo sem graça, mais valia chamar-lhe ”Arena” da República, e veremos se não será assim um pouco por toda a sociedade, a quebrar-se, como vemos suceder no Brasil ou nos Estados Unidos.
Resta comparecer, estar presente no espaço público, e responder serenamente se interpelados. Nunca permitir o lugar do medo, seja na Assembleia, ou em qualquer outra parte. Cidadania deve nos tempos vindouros significar resiliência política.
Mas, agora, sem eleições legislativas no horizonte, o que devem fazer os partidos políticos que acreditam nos valores da Constituição e do 25 de Abril?
À democracia não basta a aritmética do voto. O velho Rousseau bem alertava: é preciso que a vontade de todos, ou da maioria, não deixe de exprimir a vontade geral, não deserte do interesse comum. A preservação desse elo é o que distingue a democracia da demagogia. A resposta que urge é, pois, garantir o comum.
A direita que quer partir a espinha à Constituição é sem dúvida uma ameaça à democracia, porque mistifica e é persecutória, manipula medos, incendeia e convida à violência. Mas apontado tudo, há que dizer, no fim, que é também uma consequência de um problema de fundo e que cresce. O incêndio só deflagra num solo cada vez mais seco. Nem tudo se resume a condições materiais, mas achar que estas não estão no cerne da........
© Jornal Económico
