Pepe Mujica, o jardineiro da utopia latino-americana
Gustavo Menon — docente de relações internacionais na Universidade Católica de Brasília e no Programa de Pós-Graduação em Integração da América Latina da USP
Poucos líderes e chefes de Estado encarnaram com tanta fidelidade o que professavam quanto José Pepe Mujica. O ex-presidente da República Oriental do Uruguai deixa um legado profundo, marcado pela ética, coerência e compromisso inabalável com a justiça social e a transformação política.
Desde sua juventude, Mujica foi protagonista das lutas de seu tempo. Como fundador do Movimento de Libertação Nacional-Tupamaros, enfrentou a ditadura militar uruguaia, pagando um preço altíssimo que apenas pessoas revolucionárias podem suportar: mais de 10 anos de prisão, tortura e isolamento extremo, experiências que moldaram seu caráter e sua visão de mundo. Libertado com o movimento de anistia de 1985, tornou-se símbolo da redemocratização uruguaia e da capacidade de superação e de diálogo entre as esquerdas latino-americanas.
No governo, Mujica se destacou por sua vida austera e por rejeitar os privilégios do cargo: morava em uma chácara simples, dirigia seu fusca azul e doava a maior parte do salário a causas sociais. Sua postura, incomum entre chefes de Estado, tornou-se referência global de integridade e desapego material. Como presidente........
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